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Vacaria sobre Três Rodas: A Capital Brasileira dos Triciclos por Tradição e Paixão Automobilística

Vacaria não é apenas conhecida por seus campos, tradições e frio serrano. Hoje, entre os roncos dos motores e as estruturas artesanais sobre três rodas, a cidade consolida um título singular e emblemático: a capital brasileira dos triciclos. Em mais um episódio do podcast “Acelera Diário”, a história desse símbolo do automobilismo regional foi desvendada com emoção, orgulho e, sobretudo, identidade.

Acelera Diário – Episódio 4

Os precursores do sonho sobre rodas

Logo no início do bate-papo, os convidados especiais Vitor Ceron, conhecido como Vitão, e seu filho Felipe (Félix), resgataram a trajetória quase mítica dos triciclos vacarianos. Com raízes que remontam aos anos 1970, a história começou com nomes que viraram lenda na cidade: Iti Rossoni, Primo Casal (Genro do Lagoa), Adão Lima e os “Torneiros da BR”. Eles foram os primeiros a materializar a ideia vista em um disco de Roberto Carlos — cujo triciclo na capa foi construído por Paulo Renha, fabricante do Rio de Janeiro.

Inspirados por essa imagem e pela liberdade do espírito jovem da época, essa turma passou da admiração à construção, utilizando mecânicas de Fusca, Brasília e variantes para dar vida aos primeiros triciclos da região.

De curiosidade à cultura

Na década de 1980, esses veículos já faziam parte da paisagem local. Em um tempo sem internet, eles chamavam a atenção nas ruas, arrancando olhares curiosos e sorrisos admirados. Era o início de uma cultura que ganharia força com as gerações seguintes.

Vitão lembra com carinho dos encontros na BR-285, dos torneiros que ajudavam a fabricar peças e dos amigos que se reuniam para apreciar, entender e aprender a construir suas próprias máquinas. Não havia intenção comercial, apenas o prazer de criar e rodar com estilo pelas estradas da Serra Gaúcha.

A evolução da máquina: do Fusca ao motor AP

Com o passar do tempo, os triciclos foram ganhando novos contornos. O primeiro a usar motor AP — refrigerado à água, como nos modelos Santana e Passat — foi justamente construído por Vitão. Esse marco trouxe maior confiabilidade mecânica e abriu caminho para outras inovações.

Ao longo dos anos, as mecânicas foram se diversificando, incluindo motores modernos de carros como Corolla e Onix. Apesar da evolução tecnológica, o espírito artesanal permanece: cada triciclo é único, feito à mão, adaptado ao perfil do dono — seja pelo tamanho, pelas cores ou pelos acabamentos.

Não há dois iguais: exclusividade como marca registrada

A exclusividade é uma das maiores riquezas do triciclo vacariano. Como destacou Felipe, “não existe um triciclo igual ao outro”. Mesmo com a mesma base mecânica, os paralamas, faróis, carenagens e detalhes de acabamento são sempre diferentes. Essa personalização atrai apaixonados de todas as partes do país.

São mais de 100 triciclos já fabricados pela família Ceron, espalhados por estados como Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. E com eles, viajam também histórias, amizades e uma identidade que carrega o nome de Vacaria por onde passa.

Do hobby ao negócio: a linha tênue entre paixão e profissão

Inicialmente criados por diversão, os triciclos passaram a ser também um meio de vida para a família. Eventos e encontros de motociclistas funcionavam como vitrines improvisadas — muitos triciclos eram vendidos ali mesmo, antes do retorno para casa.

Vitão relata episódios em que nem sequer chegava a entrar nos encontros e já era abordado por interessados. A partir dessas experiências, o negócio foi tomando forma, sempre mantendo o caráter artesanal. “É um por vez. Nada de linha de produção. É conversa, medida, ideia trocada”, explica ele.

Design e liberdade: estética e sentimento sobre rodas

O estilo dos triciclos também acompanha o gosto dos tempos. Há os modelos mais robustos, carenados, com som e proteção total. E há aqueles mais crus, no estilo “chopper”, que remetem às Harley-Davidson dos filmes americanos. Cada construção reflete a alma de seu dono.

Segundo Vitão, o triciclo oferece uma sensação de liberdade mais segura do que a moto. “Me sinto mais protegido do que num carro”, comenta ele. Mas não se engane: o triciclo exige respeito. Mesmo com motores potentes e estruturas estáveis, ele precisa de habilidade e cuidado.

Legalidade e burocracia: os desafios da documentação

Legalizar um triciclo não é tarefa simples. A legislação brasileira trata o veículo como motocicleta, exigindo o uso de capacete e o cumprimento de uma série de normas de trânsito. Hoje, quem compra um triciclo precisa arcar com o processo de documentação, já que a fábrica apenas fornece o veículo baixado e com notas fiscais das peças utilizadas.

Nos primeiros tempos, a própria oficina cuidava dessa parte. Mas com a intensificação da burocracia, o procedimento foi repassado ao proprietário, tornando o processo mais complexo, porém viável para quem realmente deseja adquirir o veículo.

Vacaria, a capital do triciclo

O podcast também reforçou um ponto de orgulho local: Vacaria é reconhecida nacionalmente como a “capital do triciclo”. Um título informal, mas consolidado na memória e nos registros históricos. Com participações em eventos como o Motoneve, em Lages, e encontros de motos em Laguna e Gravatal, os vacarianos deixaram sua marca em todo o Brasil.

Na tela do podcast, imagens antigas mostraram o crescimento dos grupos e os eventos que reuniam dezenas de triciclos — todos diferentes, mas unidos pela mesma paixão.

Do retrô ao contemporâneo: entre encontros e gerações

A cultura do triciclo em Vacaria não é um movimento isolado. Ela se entrelaça com outras manifestações de amor pelo automobilismo, como o grupo “Retrô sobre Rodas”, os encontros de carros antigos e os kartódromos locais.

Felipe ressaltou o interesse crescente dos jovens. Muitos querem construir, aprender, reformar. E a oficina da família está sempre de portas abertas — não apenas para clientes, mas para amigos que queiram fazer parte dessa história viva e acelerada.

Futuro promissor: novas ideias e mais encontros

O episódio termina com uma provocação positiva: por que não criar um grande encontro anual de triciclos em Vacaria? Com tanta história, tantos veículos espalhados pelo Brasil e uma cultura tão rica, parece natural que a cidade assuma ainda mais esse papel.

A ideia seria reunir antigos e novos entusiastas, atrair amigos de longe, compartilhar histórias e continuar escrevendo essa saga — uma saga de motores, liberdade e amizade.

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