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Vacaria em Preto e Branco: A História preservada nas Palavras e Fotos de Adhemar Pinotti

Vacaria é uma cidade que pulsa história em cada esquina, mas poucas pessoas têm a capacidade de reuni-la com tamanha profundidade quanto Adhemar Pinotti. Personagem central deste podcast histórico do Diário de Vacaria, ele não apenas revive os fatos: documenta, investiga e eterniza com precisão quase cirúrgica.

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Durante o registro do Diário de Vacaria, Pinotti mergulhou em mais de um século de transformações da cidade, com detalhes que vão desde o surgimento da primeira rodoviária do Brasil até os desafios sociais gerados no início da maçã. E tudo com base em documentos, arquivos, conversas e mais de 4 mil fotografias históricas.

Um acervo para além da memória

Adhemar Pinotti deixa claro logo no início da conversa que sua paixão pela história de Vacaria não tem qualquer vínculo político-partidário. Ele valoriza cada contribuição, independentemente do lado ideológico.

Seu amor pelo município é materializado no livro Só Para Lembrar Vacaria em Fotos, uma obra com mais de 380 páginas e cerca de 100 fotografias raras — todas relacionadas a fatos históricos pesquisados e confirmados documentalmente.

“Eu considero a fotografia como uma ciência”, afirmou. Para ele, a imagem não é apenas registro, mas a prova contundente de que algo existiu. Esse compromisso com a veracidade o levou a investigar datas, contextos e até desmistificar histórias que muitos vacarienses acreditavam há décadas.

Vacaria antes do agora

Pinotti narra a evolução da cidade desde os tempos das missões jesuíticas e da chegada da gadaria aos campos de cima da serra. Ele lembra que, entre 1940 e 1960, Vacaria chegou a ter 57 serrarias em operação, fruto da intensa exploração da madeira, principalmente do pinheiro. Quando essa fase passou, iniciou-se uma transição lenta para a agricultura e pecuária.

Essa mudança culminou, posteriormente, na chegada da maçã como produto símbolo da região. Um movimento iniciado com viagens técnicas a Santa Catarina, lideradas pelo então prefeito Palombini e com a participação direta de Pinotti e do engenheiro agrônomo Genor Mussatto. Foi a semente da cadeia produtiva da maçã que conhecemos hoje.

Do improviso à construção histórica

Com mais de 45 anos dedicados à advocacia e 25 anos de publicações semanais no jornal Correio Vacariense, Pinotti passou a reunir e organizar registros históricos que antes estavam dispersos. Ele acredita que boa parte de sua trajetória é fruto da sorte de ter estado presente nos momentos certos: foi vereador, atuou diretamente na instalação da telefonia celular na cidade, participou da formação do distrito industrial e da chegada da informática a Vacaria.

Seus relatos ganham peso ao citar nomes como Francisco Appio, Eloar Guazzelli, Getúlio Marcantônio, entre outros líderes que contribuíram diretamente para o desenvolvimento da cidade. De Appio, inclusive, Pinotti foi adversário político e amigo pessoal. “Se eu ganhasse R$ 5 mil, R$ 2.500 eram teus, ele me disse”, contou emocionado, referindo-se ao ex-deputado.

Rodoviária de Vacaria: a primeira do Brasil

Um dos momentos mais marcantes da entrevista foi a revelação do papel de Vacaria como cidade pioneira no transporte rodoviário. Segundo Pinotti, embora já existissem pontos de embarque em outras cidades, a rodoviária vacariense foi a primeira oficializada documentalmente junto aos órgãos federais. Tudo começou com Vespasiano Júlio Veppo, que adaptou uma sala do antigo cinema Guarani para venda de passagens e recepção de passageiros.

A praça, a catedral e o erro histórico

Pinotti também relembrou a origem da Praça Daltro Filho e o equívoco em torno de sua homenagem. O próprio prefeito da época, Sátiro Dornelles de Oliveira Filho, decidiu nomear o espaço em memória de Daltro, um governador que jamais passou por Vacaria. Para Pinotti, uma homenagem mais justa seria à Inácia Vieira, que doou grande parte das terras onde hoje está parte da cidade.

Outra correção importante surgiu na pesquisa da imagem da santa encontrada perto do Mercado Bróglio, atribuída erroneamente a Nossa Senhora da Oliveira. “É a Imaculada Conceição”, revelou, após investigações em Porto Alegre e São Paulo.

Casa do Povo: desenho no guardanapo

A emblemática Casa do Povo também foi assunto. Segundo o entrevistado, a estrutura nasceu a partir de um esboço feito por Oscar Niemeyer em um guardanapo, levado pelo então prefeito Palombini ao engenheiro João Alfredo Acauan. A legalização da obra só ocorreu anos depois, graças à intervenção de Plínio Boeira de Souza junto ao filho de Niemeyer no Rio de Janeiro, juridicamente quem oficializou foi o então prefeito Eloi Poltronieri.

O Plínio, amigo pessoal da família do arquiteto, conseguiu os documentos necessários e obteve a assinatura formal da planta. Assim, a Casa do Povo tornou-se uma edificação legitimamente registrada, com base no traço original de Niemeyer — um desenho feito num guardanapo.

Clubes e CTGs: o declínio e a reinvenção

Pinotti lamenta o fim dos grandes clubes sociais da cidade — Jockey, Guarani e Clube do Comércio —, que marcaram época, mas sucumbiram à falta de apoio e ao desinteresse da nova geração.

Em contrapartida, elogia a renovação dos CTGs, especialmente o Porteira do Rio Grande. Ele cita a boa gestão atual, que uniu forças com a Associação Rural para garantir o uso inteligente e lucrativo do Parque Nicanor Kramer da Luz.

A maçã que alimentou e desafiou

Pinotti destacou – “Determinado dia, o Palombini, vou dizer o termo, pegou, pegou eu e o Dr. Júlio César Paim e ele e nós fomos para Freiburgo, Santa Catarina e Lebon Régis, eu de motorista, o Júlio César e o Palombini. Lá iniciamos os primeiros contatos sobre a produção de maçã.”

Vacaria e a perda de estruturas públicas

O historiador demonstrou preocupação com a perda de instituições importantes em Vacaria, como a Receita Federal, a Polícia Rodoviária Federal e tentativas de retirada da 23ª Delegacia de Polícia.

Segundo ele, a cidade sofreu com a falta de articulação política. Ainda assim, reconhece o avanço proporcionado pela tecnologia, que hoje permite a obtenção de documentos pela internet, amenizando o impacto dessas ausências.

Hospital Nossa Senhora da Oliveira: raiz da solidariedade

Pinotti dedicou parte significativa de sua fala para homenagear os fundadores do Hospital Nossa Senhora da Oliveira, entre eles o professor José Fernandes de Oliveira. Destacou que, desde 1903, as Irmãs Franciscanas, acolhidas por um membro da maçonaria local, foram fundamentais para a saúde e educação na cidade.

Seu livro, que inclui mais de 80 blocos temáticos com registros fotográficos e históricos, está disponível em formato PDF aqui. Uma verdadeira cápsula do tempo para as futuras gerações.

Pinotti: o homem que viu e documentou tudo

Na reta final da conversa, o entrevistado emocionou-se ao listar os projetos dos quais participou: do ginásio de esportes ao distrito industrial, da chegada da telefonia celular à construção do Estádio do DMD. Ele confessa que não advoga mais, mas escreve todos os dias.

Já prepara um novo livro, dando sequência ao trabalho monumental que realizou em “Só Para Lembrar Vacaria em Fotos”. Não para por vaidade — mas porque entende que a história precisa ser preservada com rigor, respeito e, acima de tudo, verdade.

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