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Tarifa de Trump sobre exportações brasileiras preocupa Campos de Cima da Serra

Podcast Diário do Agronegócio discute impactos das tarifas dos EUA no agro regional

No sexto episódio do podcast Diário do Agronegócio, produzido pelo Diário de Vacaria, o apresentador Lucas Barp recebe a médica veterinária Janice Machado para discutir um tema que abalou o setor agropecuário nacional e que pode ter reflexos diretos na região dos Campos de Cima da Serra: a nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos importados, medida anunciada pelo presidente Donald Trump.

Diário do Agronegócio – Hora de falar da nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos.

O episódio busca explorar os impactos dessa política comercial, adotada por um dos principais parceiros econômicos do Brasil, e como ela pode afetar desde grandes exportadores até pequenos produtores da região sul.

Decisão norte-americana gera alerta no setor

Ainda não esteja em vigor, a tarifa anunciada já provocou reações no mercado financeiro e agroindustrial.

Segundo Janice Machado, mesmo não sendo especialista em comércio internacional, os reflexos iniciais já são sentidos: “Nós já tivemos uma oscilação no preço do boi gordo logo após o anúncio da tarifa. Isso mostra que o impacto começa antes mesmo de a regra passar a valer oficialmente”, destaca a veterinária.

Incerteza no campo: pequeno produtor é o mais vulnerável

Para os produtores de menor escala, como muitos dos que atuam nos Campos de Cima da Serra, o cenário gera ainda mais insegurança. A falta de planejamento e de conhecimento técnico sobre os custos reais da produção dificulta ainda mais a reação e a percepção sobre as mudanças do mercado internacional.

“Infelizmente, muitos produtores não possuem controles apurados para medir o quanto uma decisão como essa impacta seu negócio. Eles reagem ao que ouvem no rádio, nas redes sociais, mas sem dados concretos sobre suas propriedades. Isso fragiliza demais o pequeno produtor”, avalia Janice.

Efeitos sobre os insumos e logística de produção

Um dos principais pontos debatidos foi o efeito cascata que tarifas como essas podem gerar. Como o Brasil importa insumos essenciais dos Estados Unidos — entre eles, componentes para rações, suplementos minerais e fertilizantes — o aumento de preços nesses produtos é uma possibilidade real.

Lucas ressalta que esse movimento pode agravar uma situação já instável, uma vez que o agro brasileiro ainda está sentindo os efeitos de outras crises globais recentes, como o conflito entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Irã.

“Estamos falando de um setor que já vem enfrentando pressão por essas guerras, agora com mais essa barreira comercial colocada, o planejamento torna-se essencial”, comenta.

Governo brasileiro aciona lei de reciprocidade e tenta renegociação

Em resposta ao anúncio norte-americano, o governo brasileiro, por meio do vice-presidente Geraldo Alckmin, iniciou articulações com representantes do setor produtivo e comercial para mitigar os impactos da tarifa.

O presidente Lula também sinalizou a possibilidade de aplicar a chamada “lei da reciprocidade”, medida que permitiria ao Brasil adotar tarifas equivalentes sobre produtos norte-americanos.

Janice observa que, embora haja esforço político para negociar, os efeitos práticos dessas manobras demoram a chegar ao campo. “O produtor quer saber como isso vai afetar o preço da saca de milho, da tonelada de adubo ou do litro de leite no mês que vem. Ele vive da produção diária”, destaca.

Indústria pesqueira já sente primeiros efeitos

A medida tarifária já afetou diretamente outros setores além da pecuária. Um dos exemplos citados no episódio é o da indústria pesqueira, que se viu em apuros com contêineres prontos para exportação e negócios inviabilizados pelas novas taxas.

A situação chamou atenção para o risco de um “efeito retorno”: produtos inicialmente destinados ao mercado externo podem ser redirecionados para o mercado interno, gerando excesso de oferta e, consequentemente, queda nos preços.

“Isso pode acabar impactando pequenos produtores e empresas locais, que não têm a mesma estrutura para competir com grandes grupos buscando escoar seus produtos no Brasil”, analisa Lucas.

Pressão sobre o mercado interno preocupa especialistas

A possibilidade de um aumento da oferta no mercado interno é uma das maiores preocupações do setor. Isso porque, com a diminuição da competitividade brasileira no mercado externo, produtores de grande porte podem optar por direcionar seus produtos ao consumo nacional, comprimindo ainda mais as margens dos produtores de menor porte.

“Isso pode gerar uma competição desleal. O mercado interno já é pressionado, e esse movimento pode tornar a vida do pequeno produtor ainda mais difícil”, explica Janice.

Exportações pressionadas e competitividade em risco

Apesar do mercado interno ser o principal destino da carne brasileira, a importância das exportações não pode ser subestimada. Elas influenciam diretamente a formação de preços e estimulam investimentos no setor. A imposição da tarifa de 50% tira competitividade do produto nacional, tornando-o menos atrativo para compradores estrangeiros.

“Com o produto brasileiro ficando mais caro nos EUA, automaticamente abre espaço para outros países exportarem para lá. Perdemos mercado e isso volta como prejuízo para quem está aqui na base da cadeia”, resume Lucas.

Planejamento e gestão são chaves para resistir à crise

Apesar das incertezas, Janice reforça que o bom planejamento ainda é a melhor forma de enfrentar cenários adversos. Segundo ela, quem conhece seus custos, tem controle de estoque e entende o funcionamento do mercado, consegue adaptar-se com mais agilidade.

“Quem é só produtor, sente o impacto com força. Quem é gestor, empresário rural, já está fazendo contas, ajustando investimentos e se preparando. Não vai sair ileso, mas pode reduzir bastante os danos”, defende.

A necessidade de modernização no campo

O episódio reforça a necessidade de uma mudança de mentalidade no campo. O produtor precisa deixar de ser apenas executor e passar a pensar estrategicamente. Isso inclui conhecimento de mercado, uso de tecnologia, controle de custos e até simulações de cenários para tomada de decisão.

“Hoje, mais do que nunca, é hora de o produtor entender que ele está inserido em um mercado globalizado. Não basta cuidar só da lavoura ou do pasto. Tem que olhar o mundo também”, aconselha Janice.

Mercado asiático pode ser alternativa estratégica

Enquanto o mercado norte-americano se fecha, especialistas indicam que o Brasil deve intensificar suas relações comerciais com países da Ásia, onde há grande demanda por proteína animal. China, Vietnã e Indonésia são mercados já consolidados para carnes bovina, suína e de frango brasileiras.

Expectativas para os próximos meses

Ao encerrar o podcast, os participantes concordam que o cenário ainda é instável e que os próximos meses serão determinantes para medir o real impacto da tarifa imposta por Trump. A mobilização do governo brasileiro e do setor agropecuário será fundamental para mitigar os danos e manter a sustentabilidade da produção nacional.

“Se há algo que aprendemos com tudo isso, é que precisamos estar mais preparados, mais atentos e mais organizados. O mundo não vai parar para esperar o Brasil se ajustar”, conclui Janice.

O podcast Diário do Agronegócio segue firme em sua missão de aproximar o debate sobre o setor agropecuário da realidade dos produtores dos Campos de Cima da Serra, promovendo informação de qualidade, acessível e que respeita a diversidade do setor.

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