Como será a recuperação dos solos pós-enchentes no Rio Grande do Sul
A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), a Emater-RS/Ascar e o Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), estão lançando, em conjunto, a primeira de uma série de publicações com recomendações para a recuperação de solos agriculturáveis no Rio Grande do Sul, após as enchentes de maio de 2024. A Nota Técnica nº 1 já está disponível para download e aponta algumas ações iniciais de recuperação.
“A produção dessas notas técnicas possibilitará o embasamento científico e a divulgação do conhecimento na área, visando nortear técnicos, produtores e entidades ligadas à produção agropecuária para o restabelecimento do solo agrícola e das bases dos sistemas produtivos afetados pelas enchentes e extremos climáticos no Rio Grande do Sul’, afirma o diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Seapi, Ricardo Felicetti.
O chefe do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da UFRGS, professor Élvio Giasson, destaca o papel da Universidade na busca de soluções para esta problemática. “É uma situação nova, o pessoal do campo está querendo orientações sobre como agir, e fomos buscar na literatura internacional casos semelhantes para nos ajudar nestas soluções”. Segundo ele, a novidade desta enchente foi a formação de grandes áreas de sedimentação nas áreas planas.
O maior desafio, apontam os pesquisadores que organizaram o documento é trazer as terras afetadas de volta aos níveis de produção pré-existentes.
“Surpreende a diversidade de situações que encontramos, muitas vezes dentro da mesma propriedade. São situações inéditas, por exemplo: das análises preliminares de solo observamos aumento no pH, o que uma tentativa de aplicação de calcário, sem embasamento de recomendação pela análise, incorreria em agravamento da situação”, destaca o diretor do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Seapi, Caio Efrom.
Recomendações da Nota Técnica:
“Estas terras agrícolas precisam de reparos biológicos, físicos e químicos, para recuperação a fertilidade do solo antes de retornar à produção”, aponta o documento. Entre as práticas recomendadas estão:
- remoção de detritos orgânicos;
- remoção de depósito de sedimentos;
- realização de amostragem e análise química do solo contemplando acidez e disponibilidade de macro e micronutrientes;
- reparo de sulcos de erosão e voçorocas;
- compactação superficial do solo.
E a indicação geral para os produtores é o adequado planejamento do uso das terras, já que estes fenômenos, como aponta a ciência, devem ser cada vez mais frequentes. “Este planejamento deve considerar não somente a organização das propriedades agrícolas, mas também a integração com propriedades vizinhas e dentro das bacias hidrográficas, considerando os fluxos e disponibilidade de água para se adequar a períodos de excesso e falta de água”, afirma Giasson. Segundo ele, “a água não respeita cercas, passa de uma propriedade para outra, por isso a necessidade de ações conjuntas”.
O Plano ABC+
O coordenador do Plano ABC+RS, pesquisador do DDPA, Jackson Brilhante, entende que a recuperação dos solos atingidos pelas enchentes passa pela adoção de tecnologias do plano agricultura de baixa emissão de carbono (Plano ABC+RS) como o sistema de plantio direto, utilização de bioinsumos, a integração lavoura pecuária floresta, as florestas plantadas e as práticas de recuperação de pastagens degradadas. “Essas tecnologias promovem a melhoria da qualidade do solo, como, por exemplo, o aumento nas taxas de infiltração de água no solo”, destaca. Segundo Jackson, o Plano ABC+RS é hoje a política pública de adaptação às mudanças climáticas no setor agropecuário gaúcho.
A Emater-RS/Ascar, que fez o cadastro das propriedades atingidas no Rio Grande do Sul pelas enchentes de maio, o levantamento das perdas, a distribuição de produtos como ração para os produtores, participa agora da elaboração deste documento sobre solos e das visitas técnicas para aferição dos danos. “É muito importante os órgãos estarem trabalhando em conjunto na busca de soluções para os produtores. Nós já estivemos no Vale do Caí, no Vale do Taquari, e agora vamos ver a situação na Serra e nas Terras Baixas para fazer estas análises”, destca o gerente técnico estadual da Emater-RS/Ascar, Marcelo Brandoli.
Próximas publicações
As próximas Notas Técnicas deverão tratar de recuperação da fertilidade do solo, recuperação de áreas atingidas por voçoroca, tipo de mecanização a ser utilizada na recuperação de áreas e na remoção de sedimentos, entre outros assuntos. “Ainda não há uma definição sobre o número de publicações, mas a ideia é ter entre quatro e seis, com textos curtos, de fácil leitura para produtores e extensionistas”, destaca Giasson.
*Com informações e fotos da Secretaria de Agricultura do RS.