Raças Hereford e Braford ganham força nos Campos de Cima da Serra


A valorização das raças Hereford e Braford tem avançado com vigor na Serra Gaúcha e nos Campos de Cima da Serra, especialmente em Vacaria e Muitos Capões, graças à mobilização de produtores que enxergaram na organização coletiva uma maneira eficaz de expandir e qualificar a produção.
Em conversa com o podcast do Diário de Vacaria, Luís Henrique Della Giustina, presidente do Núcleo Serrano de Hereford e Braford (HB), explicou como surgiu o movimento e quais são os impactos concretos nas propriedades da região.
Segundo Luís, a criação do Núcleo Serrano foi uma resposta ao bom desempenho produtivo observado entre os produtores que já trabalhavam com essas raças. “Entregavam mais do que aquilo que tinham antes, em produção e rentabilidade”, destacou. Essa união permitiu não apenas o fortalecimento da genética local, mas também uma maior visibilidade com eventos como o importante leilão “De Alma Serrana”, realizado anualmente em Vacaria.
Adaptação ao clima e eficiência alimentar: pilares das raças
O Hereford, raça de origem britânica, se mostra especialmente adaptado ao clima frio e úmido de Vacaria. Luís detalha que a rusticidade, a docilidade e a fertilidade são características marcantes da raça, o que, aliado ao temperamento calmo, reduz o estresse dos animais e melhora o ganho de peso.

Já o Braford surge do cruzamento entre Hereford e Zebu, sendo uma alternativa mais resistente ao calor e a condições sanitárias adversas, muito comuns no Brasil Central.
“São duas ferramentas importantíssimas para diferentes sistemas”, explica Luís. “O Hereford responde bem ao frio e boa nutrição, enquanto o Braford é ideal para climas mais quentes e terrenos irregulares.”
Nutrição e planejamento forrageiro elevam desempenho
A experiência de Luís como agrônomo com mestrado em produção vegetal e especialização em forragicultura o levou a integrar seu conhecimento técnico à prática no campo. Ele aponta que a combinação entre pastagens de alta qualidade e a eficiência alimentar das raças traz resultados significativos. “Com menos comida, o Hereford converte mais em carne”, afirma, destacando o papel estratégico das pastagens de inverno no sistema integrado com a agricultura.
Carne certificada e presença em eventos fortalecem a marca
A qualidade da carne também tem sido um foco do núcleo e da Associação Brasileira de Hereford e Braford, com iniciativas que envolvem a certificação dos cortes. Um exemplo foi a participação no Festival do Cordeiro de Vacaria, em 2024, onde mais de 30 costelões certificados foram assados e oferecidos ao público. “Foi uma aprovação muito interessante, um evento beneficente que marcou pela qualidade”, relembra Luís.
Essa valorização da carne certificada é considerada um diferencial competitivo. Com marmoreio, suculência e sabor acentuado, os cortes dessas raças conquistam espaço no mercado nacional e internacional.
Integração lavoura-pecuária: uma estratégia de futuro
Na avaliação de Luís, a integração entre agricultura e pecuária é o “casamento perfeito” para a região. A tecnologia presente nas lavouras pode beneficiar diretamente a pecuária quando usada de forma estratégica. “Colocar um animal eficiente em cima de uma pastagem de alta qualidade é a combinação ideal”, aponta. Ele reforça que o planejamento forrageiro aliado à genética adequada é chave para a sustentabilidade e produtividade ao longo do ano.
Eventos e expansão da pecuária como vitrine regional
Além do leilão anual do núcleo, outro marco importante foi a participação na Expointer com a venda de fêmeas elite. Para 2025, destaca-se a realização do Congresso Mundial da Raça Braford, evento que ocorrerá em Esteio de 28 de abril a 4 de maio, junto ao Bocal de Ouro. A expectativa é de uma vitrine global para mostrar o que os produtores da região têm feito em casa com excelência.
“A gente tem participado de muitas exposições. Isso tem trazido visibilidade e novas oportunidades comerciais”, comemora Luís.
Tecnologia e ciência como aliadas do futuro da pecuária
Na projeção para os próximos anos, Luís acredita que a pecuária precisa acelerar a adoção tecnológica, aproximando-se do nível de inovação já observado na agricultura. Projetos com a Embrapa, como as provas de eficiência alimentar, avaliação de carcaça e até análises genômicas estão em andamento.
Esses estudos vão permitir identificar animais que consomem menos e produzem mais, além de ajudar a compreender quais sequências genéticas estão associadas a características desejáveis como qualidade de carne ou menor emissão de gases. “Com mais dados, conseguimos discutir com as autoridades e mostrar a sustentabilidade da nossa pecuária”, destaca.
Comunicação e divulgação são peças-chave
Luís encerra a conversa ressaltando a importância de usar meios de comunicação, como o próprio podcast, para difundir essas informações não só entre produtores, mas também com a sociedade urbana. “Mostrar o que fazemos, com clareza e verdade, vai fazer nossa pecuária dar mais um salto.”