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Prática no tratamento da dor, comum em grandes centros, está disponível em Vacaria

Avanços na anestesiologia ampliam possibilidades no controle da dor

O Diário de Vacaria recebeu no podcast Saúde e Bem estar, a médica anestesiologista Dra. Roberta Mattei Jacoby, para uma conversa sobre dor aguda e crônica, inovações terapêuticas e o papel da anestesiologia no cuidado de pacientes com diferentes tipos de dor.

Prática no tratamento da dor, comum em grandes centros, está disponível em Vacaria

A pauta, conduzida pelo apresentador Lucas Barp com participação do gestor da Singular Saúde – Diagnóstico por Imagem – Rafael Santana, teve como foco esclarecer como a medicina atual tem atuado para oferecer alternativas seguras e progressivas no alívio da dor.

Durante a entrevista, Dra. Roberta abordou a conexão direta entre anestesiologia e o tratamento da dor, destacando que a prática anestésica deixou de ser apenas um recurso hospitalar restrito à sala cirúrgica. “A anestesiologia e a dor estão diretamente relacionadas. Um controle adequado da dor nas primeiras 48 horas após uma cirurgia pode reduzir significativamente o risco de desenvolvimento de dor crônica no pós-operatório”, afirmou.

Prevenção e controle no pós-operatório: mais qualidade de recuperação

Entre os pontos destacados, a médica reforçou que o controle efetivo da dor no pós-operatório não apenas facilita a recuperação do paciente como também minimiza os efeitos adversos das medicações. “Menos dor significa menos necessidade de opioides e, consequentemente, menor risco de efeitos colaterais como náuseas e dependência. Em países como os Estados Unidos, a dependência de opioides já se tornou um problema de saúde pública”, explicou.

No Brasil, segundo ela, o contexto ainda é distinto, mas a precaução com uso racional de medicamentos permanece sendo uma prioridade nos protocolos de cuidado.

Ultrassom e neuroestimulação: tecnologia melhora segurança em procedimentos

Com o avanço dos recursos técnicos, os procedimentos que antes eram realizados às cegas passaram a ser guiados por imagem, especialmente com o uso do ultrassom. “Antes utilizávamos técnicas sem visualização direta. Hoje, com o ultrassom, conseguimos ver com exatidão as estruturas que queremos atingir, o que torna os bloqueios periféricos mais seguros e eficazes”, destacou.

Esse avanço tecnológico impulsionou a transição da anestesiologia tradicional para uma atuação mais abrangente, que também envolve o consultório, fora do ambiente hospitalar. “Esse movimento começou a partir da prática com bloqueios em cirurgias ortopédicas, e acabou expandindo para o tratamento ambulatorial da dor”, acrescentou.

Dor aguda e dor crônica: distinções fundamentais para o diagnóstico

Ao longo do episódio, foram esclarecidos termos técnicos muitas vezes pouco compreendidos pelo público geral. A médica explicou que a dor aguda tem caráter de alerta e costuma desaparecer com a resolução da causa. Já a dor crônica, segundo os critérios atuais, é aquela que persiste por mais de três a seis meses e passa a ser considerada uma condição clínica por si só.

“Com o tempo, a dor crônica altera a forma como o cérebro interpreta estímulos. Mesmo que a lesão inicial já tenha sido resolvida, o cérebro continua emitindo sinais de dor. Isso muda totalmente a abordagem terapêutica”, explicou.

Tratamento individualizado e multidisciplinar

Dra. Roberta também reforçou que o tratamento da dor é sempre multidisciplinar. Médicos, fisioterapeutas, educadores físicos, psicólogos e nutricionistas podem estar envolvidos, dependendo da origem e da extensão da dor. “Não se trata de um único procedimento. O paciente precisa estar ciente de que o tratamento é contínuo, com acompanhamento periódico, assim como no caso da hipertensão ou diabetes”, afirmou.

Um dos pontos importantes levantados durante a conversa foi a necessidade de alinhar as expectativas. “Estudos mostram que reduzir em 30% a dor já traz um impacto significativo na qualidade de vida. Se conseguimos atingir 50% de melhora, o resultado é considerado muito positivo”, destacou.

Técnicas aplicadas: bloqueios, infiltrações e ondas de choque

Entre os procedimentos citados pela médica estão os bloqueios anestésicos periféricos, as infiltrações com ácido hialurônico, além da terapia por ondas de choque — esta última utilizada, principalmente, em tendinopatias. Todos os procedimentos, segundo ela, são realizados com suporte de imagem, como ultrassonografia ou radioscopia, o que reduz o risco de falhas técnicas.

“Cada caso é avaliado individualmente. Um paciente com osteoartrite de joelho que não pode operar imediatamente, por exemplo, pode se beneficiar de uma infiltração que permita iniciar a fisioterapia e evitar atrofias musculares”, afirmou.

Saúde mental e dor crônica: uma relação cada vez mais discutida

A entrevista também abordou a relação direta entre dor crônica e saúde mental. A médica destacou que a dor persistente afeta o sono, o humor e as interações sociais, podendo levar ao isolamento e à depressão. “É um ciclo vicioso. O paciente com dor crônica dorme mal, sente mais dor, se isola e tem sua saúde mental prejudicada. Por isso, é comum que o tratamento também inclua suporte psicológico”, pontuou.

O impacto da dor também se estende aos familiares e cuidadores, que passam a lidar com as limitações funcionais do paciente. Situações simples do dia a dia, como caminhar até a frente da casa, podem se tornar inviáveis — e a melhora nesses aspectos muitas vezes representa um grande avanço na percepção de autonomia do paciente.

Perfil dos pacientes e adesão ao tratamento

Questionada sobre o perfil dos pacientes que procura atendimento, Dra. Roberta explicou que a maioria são idosos com queixas osteomusculares, como dor no quadril, joelhos, coluna e tendinites persistentes. Muitos são encaminhados por ortopedistas após a dor não regredir com medidas convencionais.

Ela destacou que o sucesso do tratamento também depende da disposição do paciente em seguir o plano terapêutico. “No início, eu não abordava tanto esse aspecto. Hoje, deixo claro que será necessário tempo, esforço e continuidade. É preciso saber se o paciente está disposto a manter o tratamento e comparecer às consultas regularmente”, observou.

Experiências clínicas e percepção da comunidade

Durante a entrevista, a médica compartilhou alguns exemplos clínicos em que a abordagem intervencionista resultou em melhora da dor e da qualidade de vida dos pacientes. Em um dos casos, um paciente tratado para fascite plantar obteve melhora significativa, o que motivou sua esposa a procurar atendimento.

Ela também comentou que a demanda reprimida por esse tipo de cuidado ainda é significativa. “Quando comecei a trabalhar com dor, percebi o quanto a população idosa de Vacaria estava invisível nesse aspecto. Muitos convivem com dor há anos, sem saber que existem alternativas além da medicação tradicional”, relatou.

Perspectivas e acesso às tecnologias em cidades do interior

Dra. Roberta comentou sobre a importância de democratizar o acesso a tecnologias médicas em regiões fora dos grandes centros. “Meu objetivo é contribuir para que pessoas de cidades como Vacaria tenham acesso ao que há de mais moderno no cuidado com a dor. Essa especialização, quando me formei, nem existia como opção. Hoje, ela é uma realidade e pode fazer diferença na vida de muitas pessoas”, afirmou.

A entrevista reforça a relevância do debate sobre dor crônica e aguda, um tema muitas vezes negligenciado, mas que impacta diretamente a funcionalidade, a saúde mental e o bem-estar dos pacientes.

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