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Podcast: O consumo caiu, a dívida subiu é hora de somar forças para encontrar o caminho

No episódio mais recente do podcast Negócios e Valores, do Diário de Vacaria, Lucas Barp conduziu uma conversa esclarecedora com o consultor Sérgio Guth sobre o atual momento econômico do Brasil.

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Em meio a um cenário de desaceleração, concorrência acirrada, dificuldade de acesso a crédito e aumento dos pedidos de recuperação judicial — especialmente no agronegócio —, os especialistas traçam um diagnóstico de preocupação e, ao mesmo tempo, propõem caminhos possíveis para empresas que desejam sobreviver a essa turbulência.

A engrenagem da concorrência e o risco da liquidez zero

O ponto inicial da conversa gira em torno da transformação no comportamento do varejo. Em meio ao aumento da concorrência, sobretudo no mercado interno, o consumidor se vê atraído por promoções pontuais, sem perceber que o custo total da compra, muitas vezes, é diluído em outros produtos com preço elevado.

Sérgio alerta para uma engrenagem silenciosa e perigosa: à medida que as empresas reduzem sua margem de lucro para atrair clientes, comprometem sua liquidez. Sem liquidez, não há fôlego para manter operações, pagar salários ou investir. O próximo passo? Endividamento.

Essa espiral de perda de rentabilidade impacta todos os setores, não só o varejo alimentício. Produtos de consumo durável, como eletrodomésticos e veículos, também são afetados. Com a retração do consumo de bens não essenciais, empresas buscam estender prazos e baixar juros como tática de sobrevivência.

Montadoras reagem: juros menores e prazos mais longos

Um reflexo direto da queda no consumo foi observado no setor automobilístico. Montadoras como Chevrolet e Volkswagen passaram a oferecer condições especiais de financiamento, com prazos estendidos e taxas de juros mais acessíveis.

A ideia, segundo Sérgio Guth, é clara: “As campainhas tocaram lá também”. O consumidor pensa duas vezes antes de trocar de carro ou geladeira se o atual ainda está funcionando, e isso força as empresas a se reinventarem para manter o giro de capital.

Essa reinvenção, porém, exige caixa. E para ter caixa, é preciso planejamento. Empresas multinacionais recorrem aos próprios fundos para subsidiar vendas mais baratas, uma estratégia arriscada, mas necessária para manter mercado.

O agro e a escalada das recuperações judiciais

Um dos pontos mais alarmantes trazidos no podcast foi o aumento expressivo dos pedidos de recuperação judicial (RJ) no agronegócio. O setor, historicamente resiliente, atravessa três anos consecutivos de adversidades — secas, enchentes, juros altos e flutuações no mercado internacional de commodities.

O resultado? Um crescimento de 173% nos pedidos de RJ nos últimos três anos, o maior índice em 20 anos, conforme destacou Sérgio.

Apesar de numericamente parecer um número pequeno em relação ao total de propriedades rurais — cerca de 500 RJs entre 1,2 milhão de propriedades —, o impacto financeiro é gigantesco. Isso porque muitas das empresas que pedem recuperação representam volumes econômicos equivalentes a centenas ou milhares de pequenos produtores.

Crédito escasso e insegurança bancária

Outro fator central da crise é o acesso ao crédito. A taxa Selic, ainda elevada, torna pouco atrativo o empréstimo bancário. Instituições financeiras preferem manter recursos aplicados em títulos públicos, que oferecem rendimentos superiores a 15% ao ano com segurança, do que correr riscos de inadimplência emprestando para empresas.

A consequência? Uma travada no motor do investimento. Sem crédito, as empresas não conseguem girar o capital. Sem capital, não contratam, não produzem, não inovam. E o ciclo negativo se mantém.

Governo Federal: R$ 30 bilhões e a conta que não fecha

No dia 13 de agosto, o governo federal anunciou o plano “Brasil Soberano”, com a promessa de injetar R$ 30 bilhões para apoiar empresas impactadas por questões tarifárias e outros fatores econômicos. Para Sérgio Guth, a questão é clara: “Se o PIB não cresce, de onde sai esse dinheiro?”

A resposta: emissão de títulos públicos. Ou seja, mais endividamento. E como se não bastasse, o plano ainda prevê R$ 4,5 bilhões em renúncia fiscal, através de incentivos às empresas.

Embora necessária para reaquecer setores em dificuldade, essa política gera outra consequência: menos arrecadação para o governo, que já gasta muito e arrecada pouco. O buraco só cresce.

O exemplo da SAAF do Vasco da Gama e a crise sistêmica

A situação é tão crítica que até o futebol entra na pauta econômica. O Vasco da Gama, tradicional clube carioca que se tornou uma Sociedade Anônima do Futebol (SAAF), entrou em recuperação judicial no início de 2025. Se até clubes movidos pela paixão de milhões não conseguem sustentar suas operações, o que dizer de empresas que dependem exclusivamente de racionalidade financeira?

Associativismo como saída possível

Apesar do cenário desafiador, um conceito começa a ganhar força entre os empresários: o associativismo. Mais do que uma tendência, trata-se de uma necessidade. Unir forças, dividir estruturas, compartilhar estratégias e até se fundir com concorrentes podem ser as chaves para manter negócios vivos.

Lucas cita falas recentes de lideranças locais da CDL e da CIC de Vacaria, que demonstram essa guinada em direção ao coletivo. Para Sérgio, “Se temos empresas com as mesmas dificuldades, talvez possamos criar soluções em conjunto”.

Um exemplo prático? Duas empresas concorrentes podem criar uma joint venture, reduzir custos e ampliar o alcance de mercado sem eliminar uma à outra.

Fusões e aquisições como movimento de sobrevivência

O momento atual, apesar de incerto, também abre oportunidades para estratégias de compra e fusão. A famosa máxima do mercado financeiro — “compramos ao som dos canhões e vendemos ao som dos violinos” — se aplica aqui. Empresas em dificuldade se tornam mais acessíveis, e investidores mais preparados podem enxergar nelas chances de crescimento.

Isso vale tanto para grandes fundos internacionais quanto para empreendedores locais que enxergam valor estratégico em se unir a outros negócios. O problema, como sempre, está no acesso a recursos.

Investimento externo esfriando: cautela e espera

O capital estrangeiro, que por anos encontrou no Brasil uma terra fértil para lucros rápidos, agora adota uma postura de cautela. Em meio à instabilidade política, insegurança fiscal e incertezas macroeconômicas, fundos de investimento internacionais freiam suas intenções de fusão, aquisição ou abertura de novas operações no país.

Sérgio observa que o Brasil cresce hoje à base de especulação. “E crescimento especulativo é crescimento de almofadinha”, dispara, apontando que esse tipo de avanço não se sustenta no longo prazo.

Cenário preocupante e dívida pública impagável

A conclusão não é otimista. Com o endividamento público batendo recordes e a população brasileira com quase 80% dos cidadãos endividados, o país vive um colapso silencioso.

Empresas, famílias e o próprio Estado estão operando no vermelho.

Diante de tantos desafios, o que se destaca como caminho promissor é a força da união. O associativismo, antes visto como alternativa, agora se apresenta como estratégia essencial para a sobrevivência e o crescimento sustentável.

Empresas que antes operavam de forma isolada começam a entender que compartilhar recursos, informações e objetivos pode gerar resultados muito mais sólidos do que competir em um ambiente fragilizado.

A construção coletiva de soluções, seja por meio de fusões, parcerias ou colaborações estratégicas, demonstra que é possível enfrentar a tempestade com inteligência e resiliência.

O Brasil já provou inúmeras vezes que sabe se reinventar — e agora, mais do que nunca, é tempo de somar, cooperar, transformar dificuldade em oportunidade e é claro, torcer. O governo federal precisa agiar e rápido.

Campos de Cima da Serra, Governo Federal, Negócios, Rio Grande do Sul, Vacaria

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