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Podcast do Agro: Do alerta aviário à ação bovina: como a sanidade animal precisa ser planejada

O impacto da influenza aviária e a importância do planejamento sanitário

O podcast do Diário do Agronegócio desta semana trouxe à tona um tema de importância fundamental para o setor agropecuário: a sanidade animal, especialmente voltada à bovinocultura, tendo como gancho os recentes episódios de gripe aviária registrados no Brasil.

A convidada do episódio foi Janice Machado, médica veterinária e mestre em saúde animal com ênfase em saúde preventiva, que apresentou uma análise detalhada sobre os reflexos das doenças em diferentes cadeias produtivas e a necessidade de um olhar preventivo e técnico sobre a realidade das propriedades rurais.

Logo no início da conversa, Janice destacou que, apesar da influenza aviária estar relacionada diretamente à avicultura, o seu impacto reverbera em todas as cadeias pecuárias. Isso inclui, evidentemente, a bovinocultura, seja em termos econômicos, sanitários ou até logísticos.

Para ela, o fim do ano pecuário, que compreende o período de 1º de julho a 30 de junho, representa uma janela estratégica para planejar ações preventivas e definir o calendário sanitário de forma personalizada para cada propriedade.

O que é o manejo sanitário e por que ele precisa ser planejado

O manejo sanitário, como explica a veterinária, não é apenas um conjunto de vacinas e remédios aplicados ao rebanho. Trata-se de um planejamento prévio, baseado no conhecimento técnico sobre a realidade da propriedade, considerando o desenho da área, a dinâmica dos animais, as doenças mais prevalentes e as particularidades regionais. A intenção é simples: reduzir ao máximo a ocorrência de doenças ou mitigar os impactos das que forem inevitáveis.

Essa abordagem exige que o produtor conheça a fundo a saúde do seu rebanho. Para isso, o primeiro passo é saber o que aconteceu no ano anterior: quais doenças ocorreram, quantos animais foram afetados, quantos tratamentos foram realizados e quais vacinas foram aplicadas. Ter esse histórico registrado permite agir com mais precisão.

O papel do diagnóstico e da medicina preventiva no campo

Janice reforçou um conceito-chave para a boa gestão sanitária: diagnóstico baseado em evidências. Ou seja, mais do que observar sintomas ou mudanças de comportamento nos animais, é necessário confirmar qualquer suspeita por meio de exames laboratoriais. Muitas doenças, segundo ela, apresentam sintomas que podem ser confundidos entre si, como é o caso da tristeza parasitária bovina, que exige exames clínicos ou necropsias para sua identificação correta.

Ainda sobre essa doença, muito comum na região dos Campos de Cima da Serra, Janice detalhou que ela é causada por dois agentes distintos: Babesia bigêmina ou Babesia bovis, transmitida exclusivamente pelo carrapato, e a Anaplasma marginale, que pode ser propagada por moscas, mutucas ou objetos contaminados, como seringas reutilizadas. Portanto, o controle do carrapato é não apenas um cuidado com o bem-estar animal, mas uma ação direta de prevenção sanitária.

Nesse contexto, a medicina preventiva ganha destaque. Ela não apenas reduz custos com tratamentos posteriores, mas também aumenta a produtividade, já que evita perdas como abortos, mortes ou redução na produção de leite e carne. A prevenção, no entanto, só é eficaz se baseada em dados concretos e no comportamento do rebanho ao longo do tempo.

Sinais precoces e a importância da observação diária

Uma das grandes preocupações apontadas pela especialista é a detecção tardia das doenças. Como muitos produtores não dispõem de assistência veterinária constante, o olhar atento do próprio produtor torna-se vital. Entre os primeiros sinais da tristeza parasitária, por exemplo, estão a febre (detectável apenas com termômetro), o isolamento do animal, o aspecto arrepiado do pelo e o abatimento geral. Esses indícios aparecem antes dos sinais clínicos mais graves como urina escura ou mucosas amareladas.

Saber reconhecer esses sinais precoces e agir rapidamente é o que pode fazer a diferença entre salvar um animal ou perder parte do rebanho. É por isso que a capacitação dos trabalhadores que estão diariamente com os animais é uma ferramenta poderosa de prevenção.

Calendário sanitário: um guia sob medida para cada propriedade

Apesar de existirem modelos prontos de calendário sanitário na internet, Janice alerta que nenhum deles é eficaz se for aplicado de maneira genérica. Cada propriedade possui um contexto único — desde o período de nascimento dos bezerros até o tipo de pastagem disponível, o clima local, o nível de infestação de parasitas e a presença de determinadas doenças.

Por isso, é fundamental que cada produtor, com auxílio técnico sempre que possível, elabore seu próprio calendário sanitário. Este deve conter, além das datas para vacinas e vermifugações, estratégias específicas para controle de vetores como carrapatos, moscas ou morcegos, no caso de regiões com incidência de raiva.

Inclusive, a veterinária lembrou que recentemente a Secretaria da Agricultura emitiu um alerta para a região de Passo Fundo, indicando a necessidade de incluir a vacinação contra raiva no calendário, mesmo que ela não seja obrigatória. Isso mostra como o calendário deve ser constantemente atualizado, adaptado às novas informações sanitárias e à realidade da propriedade.

Registros e anotações: a chave para decisões assertivas

Outro ponto reforçado ao longo do episódio foi a importância do registro das ocorrências sanitárias. Mesmo sem acesso imediato a exames laboratoriais, anotar os casos de mortalidade, doenças, abortos ou qualquer sinal anormal permite uma avaliação posterior mais precisa.

Janice citou um exemplo prático: em uma propriedade com ocorrência de abortos, a investigação indicou que o produto usado no controle de carrapatos era contraindicado para vacas gestantes, o que provocou as perdas. Sem anotações do que foi aplicado, seria impossível conectar causa e efeito.

Portanto, registrar os acontecimentos do dia a dia da propriedade não é apenas uma questão burocrática. É uma ferramenta fundamental de gestão, que permite identificar erros, avaliar a eficácia das medidas preventivas e orientar as ações futuras.

Sanidade é investimento e não custo

A mensagem final da conversa foi clara: tratar a sanidade como um investimento e não como um custo. Doenças não só reduzem a produtividade como causam prejuízos diretos ao bolso do produtor. Planejar, prevenir, registrar e buscar informação são atitudes que fazem toda a diferença na sustentabilidade das propriedades pecuárias.

O podcast do Diário de Vacaria reforça seu papel como ferramenta de divulgação técnica e reflexão para os produtores da região. Com entrevistas como esta, evidencia-se a necessidade de ampliar o acesso à informação de qualidade no campo, conectando ciência, prática e realidade local.

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