Planejar, construir e realizar: Arquitetando o futuro com Minha Casa, Minha Vida e Marcia Fett

Em mais um episódio do Podcast Diário de Arquitetura e Construção, a arquiteta Marcia Fett compartilhou detalhes sobre o funcionamento atual do programa Minha Casa, Minha Vida, iniciativa do Governo Federal.

Com uma linguagem acessível, Marcia esclareceu dúvidas recorrentes de quem sonha com a casa própria, principalmente diante das recentes mudanças nas regras do programa.

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O podcast é um guia para quem deseja sair do aluguel e conquistar seu espaço com planejamento, apoio técnico e informação de qualidade.

Novas condições para acesso ao programa

O programa Minha Casa, Minha Vida, já consolidado há anos como uma das principais políticas habitacionais do Brasil, passou por ajustes recentes que ampliaram sua atratividade. Agora, é possível financiar até 80% do valor do imóvel, exigindo uma entrada entre 10% a 20%, muitas vezes coberta pelo saldo do FGTS do solicitante.

Segundo Marcia, esse cenário atual é um dos melhores dos últimos anos para se investir na casa própria. “É um momento de eleição, e tem dinheiro. As taxas de juros são muito atrativas, principalmente se comparadas à alta taxa Selic. É uma oportunidade para quem nunca pensou em sair do aluguel”, destacou.

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Impacto direto na economia local

Marcia frisou como o programa movimenta a economia de Vacaria: desde o aumento do valor dos terrenos até a geração de empregos na construção civil. “Movimenta pedreiro, eletricista, encanador, lojas de material de construção…A cidade inteira se beneficia”.

A procura por terrenos e projetos arquitetônicos aumentou visivelmente, indicando que mais famílias estão buscando aproveitar esse momento de crédito facilitado. Marcia também alerta para o planejamento financeiro: “Normalmente a gente trabalha dentro da nossa realidade, todo mundo gostaria de ter uma casa com 400 m², com piscina, né? Mas vamos trabalhar com a realidade do que eu tenho disponível, terminar a obra, poder morar nela e deixar de pagar aluguel.”

O papel essencial do arquiteto

A jornada até a casa própria não é apenas burocrática ou financeira: é também emocional. E nesse ponto, o arquiteto exerce papel fundamental.

Segundo Marcia, além da função técnica, ela acaba atuando como uma consultora financeira, tradutora de sonhos e planejadora estratégica. “Você tem que saber auxiliar o teu cliente para ele realizar esse sonho da maneira mais feliz possível.”

Ao chegar no escritório com a pré-aprovação bancária, o cliente é orientado por Marcia: “Me conta tudo que tu sonha, tudo que tu quer, mesmo que num primeiro momento a gente não possa fazer, mas a gente deixa as esperas.”

Mesmo que o orçamento não permita realizar todos os desejos de imediato, ela antecipa as futuras etapas da obra com planejamento inteligente. “Deixar um cano para máquina de lavar louça não custa nada na obra. Deixar a parte elétrica para botar um ar-condicionado não custa nada…Depois você não tem que arrebentar a parede.”

Terreno: uma escolha técnica e estratégica

Muitas pessoas acreditam que, uma vez com o financiamento em mãos, qualquer terreno pode ser aproveitado. Marcia desmistifica essa ideia ao explicar que a escolha do terreno deve considerar topografia, incidência solar, solo e vizinhança.

“Vacaria é uma cidade fria. Terrenos que recebem pouco sol ou que foram banhados no passado, por exemplo, exigem fundações mais caras. É preciso conhecimento técnico para evitar surpresas no orçamento.”

Essa análise, feita com o apoio de mapas e ferramentas técnicas, ajuda a escolher o terreno mais adequado à realidade e ao sonho do cliente.

Projeto personalizado e dentro do orçamento

Ao contrário do que muitos pensam, o projeto dentro do Minha Casa, Minha Vida não é padronizado. Marcia garante: “Cada casa é única. O projeto do João não serve para a Maria. Cada família tem suas necessidades e o terreno tem suas particularidades. A gente respeita isso.”

Mesmo com o limite de 70 m² para o programa, é possível desenvolver plantas criativas, funcionais e que respeitem os desejos da família. E se for preciso, o projeto já contempla ampliações futuras, mantendo harmonia estética e estrutural.

Controle financeiro desde o início

Uma das principais razões para o abandono de obras, como é visível em muitos bairros de Vacaria, é a falta de planejamento financeiro. Marcia destaca que o processo junto à Caixa exige um cronograma físico-financeiro rigoroso: “Tem que entregar tudo detalhado, materiais, etapas da obra, datas. E isso não pode ser alterado depois. Se mudar, pode dar problema, até embargo da obra.”

Por isso, ela recomenda não fazer alterações durante a execução. Caso o cliente deseje incluir uma garagem, por exemplo, o ideal é deixar a estrutura planejada, mas aprovar e executar depois que a casa estiver finalizada e o financiamento encerrado.

“Normalmente não aprova as garagens, não vale a pena gastar da tua metragem com garagem, mas no projeto eu já contemplo para o cliente. Não está aprovado na prefeitura, mas pode ser feito depois. Minha sugestão é: faça tudo dentro do que foi financiado.”

Da aprovação à compra da almofada do sofá

A jornada é dividida em fases claras:

1. Consulta com o agente financeiro (geralmente da Caixa).
2. Pré-aprovação do crédito com base no salário e FGTS.
3. Escolha do terreno e planejamento do projeto.
4. Aprovação do projeto na prefeitura.
5. Liberação do financiamento.
6. Início da construção.

“Depois de tudo aprovado, o cliente já começa a pensar na almofada do sofá. E quando eu entrego a chave com a casa igualzinha ao projeto 3D, é emocionante”, conta Marcia.

Infraestrutura e exigências técnicas

Além da metragem limitada, o programa exige alguns critérios básicos de infraestrutura, como a instalação obrigatória de caixa d’água com capacidade mínima (geralmente 500 litros), fossa e filtro de esgoto.

No entanto, não há exigência oficial por parte do governo em relação à adoção de tecnologias sustentáveis como energia solar ou reaproveitamento de água. “Infelizmente, ainda não temos essa exigência ecológica no programa. A instalação de placas fotovoltaicas é opcional e pode ser feita por financiamento separado”, esclarece Marcia.

Planejar, realizar e depois ampliar

A recomendação é clara: finalize a obra prevista no financiamento antes de pensar em ampliações. A partir do momento que a casa está pronta, o cliente pode utilizar recursos próprios para construir uma garagem, um novo quarto ou uma área de lazer. E com o fim do aluguel, esse dinheiro pode ser redirecionado para esse tipo de melhoria.

Muitas pessoas não buscam informações por medo ou por acreditarem que não têm renda suficiente. Marcia reforça: “Tentem. Às vezes o valor que você acha pequeno é suficiente para algo incrível. A gente já fez casas com 42 m² que são verdadeiras joias.”

A arquiteta acredita no poder transformador da informação e do planejamento. “Eu fico muito feliz quando vejo a casa pronta e o cliente dizendo: ‘É igualzinho ao projeto!’. É a realização de um sonho.”