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Planejamento, Sustentabilidade e Gestão: Os Pilares da Pecuária nos Campos de Cima da Serra

A edição mais recente do podcast do Diário de Vacaria, dedicado ao fortalecimento do setor agropecuário, trouxe novamente ao centro da conversa a médica veterinária Janice Machado.

Fundadora da Academia do Campo e mestre em Saúde Animal com ênfase em Medicina Preventiva, Janice trouxe contribuições técnicas valiosas sobre o momento atual da pecuária regional, abordando desde eventos que mobilizaram o setor até reflexões sobre práticas de manejo, planejamento e desafios climáticos.

Planejamento, Sustentabilidade e Gestão: Os Pilares da Pecuária nos Campos de Cima da Serra

Ela iniciou relembrando a primeira participação no podcast, onde foram discutidas as bases da produção eficiente, como o manejo adequado das pastagens e a importância das análises de campo. A conversa evoluiu para conectar o calendário técnico das propriedades com o cenário regional, destacando o impacto de eventos como o 4º Encontro Pecuário Eficiente e Feira de Terneiros em São Francisco de Paula.

Feiras movimentam o agro regional

O evento em São Francisco de Paula se destacou pela organização e troca de informações entre técnicos, produtores e empresas. Durante a manhã, palestras técnicas e relatos de experiências práticas forneceram conhecimento direto sobre a realidade da produção. À tarde, a feira focou na comercialização de terneiros, terneiras e novilhas — movimentação estratégica dentro do ciclo tradicional de desmame.

A importância dessas feiras vai além da simples compra e venda de animais. Elas representam momentos de convergência entre conhecimento técnico e decisões comerciais. A antecipação da 20ª Feira do Terneiro, Terneira e Vaquilhona de André da Rocha, marcada para 3 de maio, exemplifica a continuidade dessa agenda de integração do setor.

Planejamento técnico e produtividade

Um dos principais destaques do podcast foi a análise de resultados trazidos pelo técnico Armindo, da CIA Brasil, que demonstrou como uma boa adubação de cobertura pode multiplicar significativamente a taxa de lotação das pastagens.

A aplicação correta de ureia, por exemplo, permitiu uma carga de 5,4 animais por hectare com ganho médio diário de 1,260 kg. Isso resultou em impressionantes 860 kg de carne produzida por hectare — um número muito superior à média de áreas de campo natural, que gira em torno de uma unidade animal por hectare.

Esses dados reforçam a tese defendida por Janice: investir em correção de solo, adubação e escolha da forrageira adequada traz retornos tangíveis, especialmente quando o planejamento técnico é respeitado.

Impactos climáticos: desafios imprevisíveis

Em meio a esse cenário promissor, há um fator que escapa ao controle técnico: o clima. Durante a gravação, os participantes comentaram os efeitos imediatos de uma chuva de granizo que havia acabado de ocorrer. Janice destacou o quanto eventos extremos como esse podem impactar negativamente as lavouras recém-implantadas ou colheitas em andamento, além de interferirem diretamente na qualidade e no preço final dos produtos agropecuários.

Ela reforçou a importância da adaptação e resiliência, apontando também o papel das pastagens cultivadas como ferramentas de sequestro de carbono, contribuindo para a agenda ESG (Environmental, Social and Governance) e para a sustentabilidade ambiental da atividade.

Sustentabilidade e permanência no campo

Outro ponto levantado por Janice foi a alarmante previsão da Embrapa de que até 2040, metade dos pecuaristas brasileiros poderá abandonar a atividade. Fatores como baixa rentabilidade, degradação ambiental e falta de sucessão familiar são os principais vilões.

Nesse sentido, tornar as propriedades mais eficientes e sustentáveis não é apenas uma escolha técnica, mas uma estratégia de sobrevivência econômica e social.

Ela destacou que mesmo propriedades menores, com investimentos bem direcionados, podem alcançar alta produtividade e garantir a permanência de jovens e famílias no campo.

Custo de produção: o número que realmente importa

Na sequência, o podcast mergulhou no tema da gestão econômica das propriedades. Janice explicou que entender o custo real de produção por quilo de carne é mais relevante do que acompanhar apenas os preços de mercado.

Em feiras como a de São Francisco de Paula, por exemplo, o quilo do terneiro oscilou entre R$ 11 e R$ 16, com média de R$ 13,26. Mas, sem saber quanto custou produzir esse quilo, o produtor não consegue avaliar se o negócio foi lucrativo.

Segundo ela, muitos produtores ainda têm o hábito de não contabilizar corretamente os custos — “escondem o jogo”, como ela mesma definiu — o que dificulta a tomada de decisões estratégicas. Sem esses dados, decisões importantes, como arrendar a terra ou vender a área, podem ser tomadas sem base concreta.

Investimento não é gasto

Janice reforçou que investimentos, como adubação, correção de solo, sementes certificadas e estrutura para manejo, precisam ser vistos como ferramentas de retorno futuro, não como simples despesas.

Desenho da propriedade e decisões assertivas

O planejamento do calendário da propriedade também foi abordado com profundidade. A compra de animais, por exemplo, precisa estar alinhada com a disponibilidade de alimento na fazenda. Comprar terneiros antes que a pastagem esteja pronta pode gerar perdas significativas de peso e obrigar o uso de suplementação ou silagem, elevando os custos.

A lição aqui é clara: desenhar a propriedade com precisão, respeitando os tempos certos para cada etapa, é essencial para evitar prejuízos e potencializar resultados.

Informação de qualidade ao alcance

Na reta final do episódio, foi apresentada a ferramenta do Nespro (Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva), ligada à UFRGS. O site fornece atualizações semanais com médias estaduais de preços do boi gordo e do gado de reposição.

Esses dados ajudam o produtor a se posicionar com mais segurança no mercado, comparando preços e prevendo variações com base em séries históricas. Além disso, os gráficos ajudam a entender o ciclo pecuário — um fenômeno que, em média, dura 1000 dias e apresenta variações previsíveis de preço ao longo do tempo.

Conhecimento, planejamento e adaptação

Este episódio do podcast do Diário de Vacaria reforçou a missão de entregar conteúdo técnico de qualidade aos produtores dos Campos de Cima da Serra. A cada edição, o projeto se consolida como uma “bola de neve do bem”, que acumula conhecimento, conecta saberes e transforma a realidade rural da região.

Com o tripé formado por planejamento técnico, gestão econômica e adaptação climática, os produtores têm nas mãos as ferramentas para garantir produtividade, sustentabilidade e permanência no campo.

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