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No podcast, Sérgio Guth valoriza princípios simples que sustentam qualquer negócio

Empreender sem maquiagem: as lições de Sérgio Guth para sobreviver e crescer

No quarto episódio do podcast Diário de Negócios e Valores, do Diário de Vacaria, o economista Sérgio Guth voltou ao estúdio para uma conversa franca sobre o cotidiano de quem empreende. Em pouco mais de meia hora, ele traduziu “economês” em orientação prática, atacou vícios de gestão e iluminou decisões de caixa, preço e tributos.

Sérgio Guth valoriza princípios simples que sustentam qualquer negócio #empreendedorismo #economia

O tom foi direto ao ponto. Sem jargões, Guth explicou por que conhecer números é condição de sobrevivência, como ajustar o giro de estoque, quando buscar crédito e por que o Estado é um “sócio oculto” que entra no caixa sem pedir licença. Tudo com exemplos simples, sem perder a técnica.

Da pandemia às guerras: o efeito cascata

Lucas Barp abriu contextualizando o momento. Depois do choque da pandemia, do foco em saúde e do aprendizado coletivo sobre vacinas e respiradores, vieram guerras e novas preocupações com segurança. Na sequência, a conta chega à economia, atingindo consumo, confiança e custos.

Guth concorda com o diagnóstico. Para ele, as pessoas estão mais atentas ao futuro e à tecnologia, especialmente à inteligência artificial. O resultado é uma busca maior por informação e oportunidades. Mas informação só vira resultado quando se transforma em decisão, método e disciplina.

Tradução do economês: orientação prática

Guth explica a rotina que começa com perguntas básicas que muitos ignoram: para quem você vai vender? De quem vai comprar? Quanto pagará de tributos?

A lista parece elementar, mas, segundo o economista, grande parte dos negócios morre cedo por desconhecimento. Por isso, defender ideias como reforma tributária exige linguagem simples. Em vez de siglas, explicar como o imposto incide sobre a compra no mercado, o serviço contratado e a nota emitida.

Back to basics (de volta ao básico) e o mapa do nicho

O podcast insistiu no “arroz com feijão bem feito”. Antes de pensar em IA, é preciso acertar o beabá: definir nicho, entender demanda, mapear fornecedores e dominar o cálculo da margem de contribuição. O básico, feito com rigor, evita decisões tomadas por impulso e reduz o ruído no dia a dia.

Para Guth , escolher cliente e fornecedor é estratégia. Comprar do perfil certo pode gerar benefícios tributários e financeiros; vender ao segmento adequado acelera giro e reduz risco. Quando essas “fichinhas” caem, o empreendedor enxerga o negócio como sistema, não como uma sequência de incêndios.

Fontes confiáveis e redes locais

Informação tem de vir de fonte confiável. No plano local, Lucas citou entidades como CIC, CDL e Sindilojas, além de associações de motoristas, contadores e engenheiros. Esses espaços reúnem experiências, atualizações e alertas que ajudam a filtrar modismos e antecipar mudanças de regra.

Guth concorda e acrescenta: ninguém sabe tudo. Ter um “guru”, pedir opinião e cultivar redes de networking não é fraqueza; é humildade. Ele próprio consulta pares quando esbarra em dilemas novos. A construção de conhecimento nasce do questionamento e do confronto produtivo de experiências.

Humildade como competência de gestão

“Uma das premissas básicas é saber dizer ‘eu não sei’”, cravou o economista. No ambiente empresarial, essa frase abre portas. Ao admitir limites, o gestor procura dados, valida hipóteses e evita dogmas. O resultado é uma cultura de aprendizado contínuo que se reflete em processos e resultados.

Guth lembrou que, em sala de aula, aprende tanto quanto ensina. As perguntas dos alunos — da graduação ao doutorado — revelam cenários, exceções e práticas. Transformar dúvida em método é um diferencial competitivo, especialmente em mercados voláteis e com margens apertadas.

Crédito, juros e o apetite a risco

Quando vale captar capital de giro e quando é melhor “apertar o caixa”? A resposta, disse Guth , é cultural e técnica. Começa pelo perfil de risco do empreendedor — conservador ou arrojado — e desemboca nos números. Se o resultado suporta juros de 20% ao ano, a alavancagem pode fazer sentido.

A linha entre sucesso e fracasso é tênue. Por isso, decisões exigem planos alternativos e cenários de prevenção. Consultoria não garante sucesso, mas reduz a chance de insucesso. O reconhecimento da própria tolerância ao risco evita entrar em “meia fase”, metáfora do entrevistador para o perigoso meio-termo.

Liquidez e o ciclo econômico-financeiro

Liquidez é respiração da empresa. Para definir o caixa mínimo, Guth sugere olhar o ciclo econômico e financeiro: dias de estoque, prazo médio concedido a clientes e prazo médio obtido de fornecedores. A soma — descontada a folga com fornecedores — mostra quantos dias o negócio precisa bancar.

Há setores com ciclos de 90 dias; outros, de seis meses. Em indústrias de ciclo longo, como a naval, o horizonte chega a anos. Sem essa prevenção, qualquer queda sazonal derruba a capacidade de pagar folha, aluguel e insumos. Com ela, o gestor transforma sazonalidade em planejamento.

Estoque que gira é caixa que respira

“Por que você comprou um monte de sapato?” A provocação de Guth ilustra um erro comum: “enterrar” dinheiro em itens que giram pouco. A palavra-chave é margem de contribuição total, cálculo que cruza preço, custo e quantidade. Ele aponta quais produtos sustentam o negócio e quais drenam capital.

A regra prática é simples. Mantenha estoque enxuto naquilo que gira uma vez por mês e reforce o que roda sete ou oito vezes. Normalmente, itens de giro alto têm custo mais competitivo — e sustentam o caixa. Para isso, é indispensável um “raio-X” da empresa atualizado e lido sem maquiagem.

Preço: cálculo inteligente versus cálculo burro

A precificação equivocada destrói margens. Guth ilustrou com um exemplo didático. Se um produto de R$ 100 recebe acréscimo de 10%, vai a R$ 110. Mas reduzir 10% de R$ 110 não volta a R$ 100; cai para menos. O recado: aumento “por fora” e desconto “por dentro” não são operações simétricas.

Erros assim, somados à tributação sobre consumo, fazem empresas “perderem quanto mais vendem”. Dominar o método — saber a base de cálculo, separar preço líquido de tributos e aplicar margens corretas — é condição para que cada venda contribua de fato para cobrir custos fixos e gerar lucro.

Tecnologia, IA e a ponte para quem não tem acesso

A inteligência artificial apareceu como promessa — e também como risco de distração. Para Guth , ela é aliada de quem já faz o básico bem-feito. Para quem ainda não domina caixa, preço e estoque, o primeiro passo é procurar o contador, o consultor ou o diretor financeiro e colocar os números na mesa.

A ponte para quem tem menos acesso tecnológico passa por gente. Conversar com quem já trilhou o caminho, pedir uma avaliação de quem admira, comparar processos e indicadores. Não se trata de copiar, mas de espelhar-se em boas práticas e adaptá-las ao tamanho e ao contexto do próprio negócio.

Pessoas, folha e o custo invisível

Antes de falar em terceirização, o economista puxou a lupa para o custo do time. Considerando férias, 13º, INSS e FGTS, um funcionário custa, em média, de 80% a 86% a mais do que o salário nominal. Saber esse número é crucial para decidir contratar, automatizar, treinar ou redesenhar processos.

Para empresas no Simples, as regras mudam, mas a lógica não. Contratar sem conhecer a estrutura de custos cria uma falsa sensação de crescimento. O quadro incha, a produtividade não acompanha e o caixa estrangula. Planejamento de pessoas começa por orçamento e metas claras de resultado.

Terceirização: quando resolve e quando vira risco

Guth alertou para a terceirização da atividade-fim. Ainda que a lei permita, terceirizar mão de obra que atua exclusivamente dentro da empresa pode gerar vínculo trabalhista e dor de cabeça. A terceirização faz sentido quando o prestador atende múltiplas organizações e quando o ganho de eficiência é real.

Produção fora da planta, BPO administrativo e serviços especializados são caminhos. Mas é preciso medir. Comparar custo total, qualidade, SLA e risco jurídico. A matemática da terceirização não termina na nota do fornecedor; ela inclui compliance, governança e a experiência do cliente final.

Planejamento tributário e o sócio oculto

“O empreendedor tem um sócio oculto: o Estado.” A frase de Guth condensa um incômodo estrutural. Tributos sobre consumo e renda entram no caixa “sem bater na porta” e podem levar algo próximo de 40% do faturamento, a depender do regime e da atividade. Ignorar essa fatia é perder a partida de saída.

O economista citou a existência de dezenas de tributos e lembrou que o Simples concentra a maioria das empresas em número, mas representa parcela pequena da arrecadação. A mensagem por trás de percentuais e siglas é uma só: só com planejamento tributário o gestor evita pagar mais do que deve.

O papel da educação financeira

Guth também contou sua experiência em educação financeira nas escolas. Muito foco e trabalho e conceitos como orçamento, poupança e prioridade. A filosofia é a mesma para pessoas e empresas: quem sabe para onde vai dá destino ao dinheiro; quem não sabe, o dinheiro vai embora.

Quando a gestão foca em percentuais, acompanha indicadores e respeita premissas, o tamanho deixa de ser desculpa. Pequenos negócios conseguem disciplina de grandes; grandes retomam o faro do dono. O que muda, de um lado a outro, é o volume em reais e a complexidade dos processos.

O valor do insight certo na hora certa

Às vezes, falta apenas um clique. Lucas lembrou a “martelada número 100” que racha a pedra depois de 99 tentativas. Guth emendou com um caso do dia: uma pergunta na hora certa “solucionou a vida” de um interlocutor. Conversar, oxigenar o cérebro e sair da rotina destravam soluções óbvias.

O insight não substitui método, mas acelera o aprendizado. Traz perspectiva e humildade. E evita que o dono fique com “viseira de charrete”, enxergando só o trilho à frente e perdendo sinais laterais do mercado. A gestão que escuta mais erra menos e ajusta a rota mais cedo.

Como filtrar o ruído e focar no essencial

Escolha bem as fontes, leia os números, pergunte quando não souber, faça o básico com zelo. Use tecnologia como alavanca, não muleta. E trate caixa e preço como ciência aplicada, não como palpite. O resto é disciplina e melhoria contínua.

Para o pequeno empresário que acorda cedo no dia seguinte, fica um guia de bolso. Defina nicho e proposta. Calcule a margem de contribuição. Meça o ciclo financeiro. Reveja cadastro e prazos. Não superestime o estoque. E planeje tributos antes de emitir a primeira nota. É daí que nasce a resiliência.

Do conselho à estratégia, sem perder o pé no chão

Ao alternar conselhos e estratégias, Guth encurtou a distância entre teoria e prática. Falou de capital de giro sem misticismo, de risco sem bravata, de pessoas sem slogans. E lembrou que resultados não nascem do discurso, mas do alinhamento entre o que se mede, o que se decide e o que se executa.

A lógica é desmontar a complexidade em partes administráveis. É o antídoto contra a paralisia. Em tempos de ruído alto e margem curta, essa é uma competência escassa. E, justamente por isso, valiosa.

Uma rota para tempos instáveis

Vivemos ciclos que ninguém escolheu: pandemia, choques geopolíticos, volatilidade de preços. O efeito cascata chega ao caixa da mercearia e ao DRE da indústria. Não há como blindar tudo, mas há como amortecer. O caminho passa por informação boa, redes ativas e decisões ancoradas em dados.

Seja qual for seu porte, o primeiro passo é o mesmo: saber exatamente onde você está. A partir daí, decidir o próximo passo fica menos arriscado. E cada ajuste — no preço, no estoque, no prazo, na folha — deixa de ser ato de fé para virar cálculo amparado pelo que mais importa: a realidade do seu negócio.

Cinco movimentos de alto impacto imediato

Reforce os itens de giro alto e descontinue os “sugadores” de caixa. Revise a precificação para eliminar simetrias falsas de acréscimos e descontos. Mapeie o ciclo financeiro e ajuste prazos com clientes e fornecedores. Estruture a provisão de folha e encargos. E trate tributos como projeto permanente.

Nada disso depende de tendências passageiras. É trabalho de formiguinha, mas com retorno claro. É assim que o empreendedor deixa de sobreviver mês a mês para, enfim, crescer com previsibilidade. E é exatamente esse o norte que o Podcast Diário de Negócios e Valores busca oferecer a cada episódio.

Da teoria à prática: amanhã de manhã

A pergunta que guiou a conversa — “como tocar a rotina na segunda-feira?” — merece respostas diretas: Revise hoje seu cadastro de produtos e classifique por margem e giro. Abra sua planilha de prazos e reconcilie com a realidade de recebimentos. Sente com seu contador e desenhe um plano tributário.

Se precisar de crédito, simule cenários de juros, prazo e impacto no resultado. Defina seu apetite a risco e só então assine o contrato. Se a temporada for de vacas magras, “aperte o caixa” com método. E se os números permitirem, invista para acelerar o ciclo que já funciona.

Fechamento com propósito

Gestão é escolha, números, humildade e prevenção. O resto é consequência. Quem escuta os sinais, mede o que importa e decide com método, tende a atravessar as estações com mais fôlego e menos susto.

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