Skip to main content
Sicredi

Histórias Sobre Rodas e Paixão: O Legado de Ity Rossoni no Automobilismo de Vacaria

O segundo semestre de 2025 começou com temperaturas baixas, como é típico dos Campos de Cima da Serra , mas também com um calor que vem de outro lugar: a memória e a paixão pelo automobilismo local. No 10º episódio do Acelera Diário, programa que valoriza e resgata as raízes do mundo dos motores em Vacaria, o convidado foi ninguém menos que Ity Rossoni, figura central na história do kart, do off-road e das corridas que marcaram gerações.

Histórias Sobre Rodas e Paixão: O Legado de Ity Rossoni no Automobilismo de Vacaria

Ity Rossoni, ou apenas Ity, como é conhecido pelos amigos, tem um nome que carrega a força da descendência italiana e a intensidade de quem mergulhou por completo no universo da mecânica e da velocidade. Ao longo de quase seis décadas, ele construiu, pilotou, ajudou a organizar pistas, ensinou e deixou marcas profundas que vão muito além do ronco dos motores.

Os Primeiros Aceleradores e o Fomento ao Automobilismo

O ponto de partida do fascínio de Ity pelos carros se deu ainda na infância, ouvindo corridas pelo rádio, compartilhando a curiosidade com o irmão e amigos. Ele relembra com clareza os tempos em que não havia quase nenhum material técnico disponível: as revistas especializadas eram compradas em aeroportos e as informações, em grande parte, vinham da prática pura.

Na sua oficina, fundada por seu pai em 1960, a criatividade sempre foi maior que a limitação dos recursos. Foi assim que, em 1976, nasceu o primeiro triciclo da região, montado artesanalmente a partir de um Fusca cortado ao meio. “Meu pai enlouqueceu quando viu”, conta Ity, rindo. Para ele, as coisas precisavam acontecer no limite. Essa urgência e entrega total se tornaram sua marca registrada.

O Início das Corridas e a Cultura Local

Nas décadas de 60 e 70, Vacaria viveu seus primeiros movimentos organizados de automobilismo, muito ligados ao agronegócio. Ity lembra dos relatos do saudoso João Vicente Golin, piloto que colecionava vitórias com seu Fusca. Era uma época em que não existiam pistas asfaltadas, e trajetos desafiadores como a Serra das Antas faziam parte dos percursos competitivos.

Os primeiros karts chegaram pelas mãos de Fred Feijó, que também tinha paixão incontrolável pelos motores. Foi com ele que Ity teve contato direto com esse universo. O kart de Fred, guardado até hoje em sua casa, foi simbólico: inaugurava um capítulo que cresceria nas décadas seguintes e formaria gerações de pilotos e mecânicos na cidade.

A Criação da Pista e o Espírito Comunitário

Talvez uma das passagens mais emblemáticas tenha sido a construção do novo kartódromo. Quando o então prefeito Dr. Enore Angelo Mezari propôs trocar a área antiga por um terreno maior e construir uma pista oficial, Ity ficou responsável por idealizar o projeto. O processo envolveu idas ao fórum, discussões técnicas e momentos de tensão.

Houve resistência por parte do Ministério Público, que considerava a troca “irracional” e “impossível”. Em uma das audiências, Ity resumiu sua honestidade durante as conversas: “Eu não consigo subir onde o senhor está, vai ter que descer onde eu estou.” A sinceridade, mais uma vez, abriu portas. O kartódromo, com pista asfaltada, acabou se tornando um cartão de visitas do automobilismo vacariense.

Ao falar sobre essa história, Ity faz questão de reconhecer quem continuou o trabalho: “Vieram pessoas importantíssimas que ergueram o kartódromo, que somaram. Eu fico muito grato por eles.”

A Fórmula Ford e a Conquista do Impossível

Nos anos 2000, Ity, junto com o filho Alessandro e o piloto Franco Stedile, abraçou outro desafio ousado: participar das 1000 Milhas Brasileiras de Interlagos. Sem apoio de grandes patrocinadores, eles montaram um monoposto com motor Opel praticamente artesanal.

Durante meses, trabalharam noite e dia na fazenda do Franco para preparar o carro. Cada parafuso foi substituído por outro mais leve, cada peça foi aliviada. O projeto era a síntese do que Ity sempre acreditou: “Se alguém dizia que era impossível arrumar, eu dizia: ‘Traga pra mim.’”

Na pista, ficaram por duas horas no 12º lugar geral, competindo contra Ferraris, Vipers e Porsches importados com equipes de 15 pessoas. Enquanto os adversários tinham peças sobressalentes para substituir o carro inteiro em caso de pane, eles tinham apenas uma caixa de câmbio reserva e muito amor pela empreitada.

No fim, uma troca errada de marcha por um piloto convidado acabou quebrando a caixa e comprometendo o resultado, mas não a história. “Aquele carro foi feito aqui em Vacaria de ponta a ponta, e acompanhava uma Ferrari em reta”, conta Ity com orgulho.

O Avanço Tecnológico e os Novos Desafios

Do triciclo ao monoposto, do kart ao off-road, Ity viveu a transição mais radical que a mecânica já enfrentou: a chegada da eletrônica embarcada.

Hoje, ele observa com estranheza e admiração o quanto os carros modernos dependem de scanners, atualizações de software e rastreadores. “Antigamente, se quebrava, tu dava um jeito. Agora, se desconecta um plug, o carro não pega mais”, relata, ao contar o episódio em que precisou chamar assistência para um veículo que não reconheceu o combustível abastecido.

Também no setor agrícola, onde começou a vida profissional, a mudança foi brusca. Equipamentos que antes podiam ser desmontados e remontados na oficina agora precisam de licenças mensais de software e dispositivos caríssimos.

A Essência do Automobilismo: Entre Amigos e Histórias

Talvez o maior mérito de Ity não seja apenas o conhecimento técnico, mas a forma como ele construiu relacionamentos ao longo das décadas. No relato emocionante, ele lembra dos dias de Interlagos, quando a equipe de Vacaria dormia dentro de um caminhão de transporte de gado adaptado, cheio de barris de chope que viravam ponto de encontro de todos os mecânicos e pilotos durante as madrugadas.

Ele também conta sobre as gincanas do Banco do Brasil, das quais participava com entusiasmo juvenil, e sobre como a competição, mesmo amadora, despertava a mesma adrenalina.

Ao final do programa, todos reconheceram que histórias assim, contadas com sinceridade e detalhes, têm um valor inestimável. São esses episódios que tornam o Acelera Diário um registro vivo da cultura automobilística local.

O Futuro que Nasce das Memórias

A edição de número 10 do Acelera Diário não foi só um podcast: foi uma celebração da paixão, da criatividade e do espírito colaborativo que fizeram de Vacaria uma referência inesperada para quem pensa que automobilismo só nasce em centros industriais.

Com humildade e humor, Ity Rossoni mostrou que o grande diferencial está em quem pilota e em quem tem coragem de sonhar — seja montando um kart improvisado, seja acelerando contra Ferraris no maior circuito do país.

E se o presente é feito de tecnologia, é no passado que mora a essência que ainda inspira mecânicos, pilotos e apaixonados. Nas palavras de Ity: “A regra é não ter regra. É se entregar totalmente.”

Antigomobilismo, Campos de Cima da Serra, Carros, Carros Antigos, Carros e Motos, Kart, Podcast, Vacaria

Anúncios
Estudio

– O Diário de Vacaria é Nosso! Participe enviando pelo WhatsApp sua notícia –

Seja bem vindo(a) ao Diário de Vacaria - Acompanhe nossas publicações diariamente.