Engenheiros no Diário: Expansão, Mão de Obra, Profissionalização e os Desafios em Vacaria

Quarto episódio destaca realidade, oportunidades e gargalos da construção civil na região

O município de Vacaria, reconhecido por sua força no agronegócio, vem ganhando destaque em outro setor estratégico: a construção civil.

O crescimento expressivo, a transformação da paisagem urbana e as novas oportunidades de investimento foram temas centrais do 4º episódio do podcast Diário de Arquitetura e Construção, uma produção do Diário de Vacaria que tem se consolidado como espaço técnico e reflexivo sobre urbanismo, engenharia e arquitetura local.

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O episódio reuniu três importantes nomes do setor: o Engenheiro Civil Alex Susin da Susin Incorporadora, a Arquiteta Márcia Fett – Marcia Fett Arquitetura e o Engenheiro Civil Maurício Boeno da Yclodema Engenharia Civil.

Ao longo da conversa, o trio traçou um diagnóstico do setor na cidade, apontou tendências, refletiu sobre a escassez de mão de obra e destacou a importância de integração entre profissionais para um crescimento urbano sustentável.

Transformações visíveis e um novo ritmo urbano

Logo no início, Márcia Fett destacou a evolução urbana de Vacaria nos últimos dez anos. A cidade, segundo ela, passou a adotar um novo ritmo de crescimento, visível na paisagem e refletido no número crescente de obras, loteamentos e prédios em diferentes bairros.

A arquiteta também ressaltou que o avanço da construção civil local está ligado diretamente à atuação conjunta de profissionais qualificados. “Engenharia e arquitetura precisam andar lado a lado. O sucesso de uma obra começa no projeto e passa por uma execução bem-feita, com comprometimento técnico e visão de cidade”, afirmou.

O elo da cadeia produtiva: cada etapa importa

Para o Engenheiro Civil Alex Susin, o processo da construção é como uma corrente. “Cada profissional representa um elo e, se um falha, toda a engrenagem sofre. Desde o projeto até a entrega da chave, todos os passos precisam ser respeitados”, comentou.

Susin, que já teve experiências em outras cidades como Carazinho, destacou que o comportamento do cliente em cidades médias é relativamente semelhante, mas há uma diferença cultural e econômica em relação a capitais. “O mercado de Porto Alegre, por exemplo, é mais exigente. Aqui em Vacaria, temos um perfil mais voltado à praticidade e funcionalidade, muito influenciado pelo agro”, analisou.

Engenharia vacariense e o perfil do consumidor local

O Engenheiro Civil Maurício Boeno acrescentou que mesmo dentro de um mesmo empreendimento há variação de perfis de consumidores.

“Em um prédio com unidades parecidas, a forma de compra e as expectativas do cliente já variam. Agora, quando falamos de empreendimentos diferentes, aí muda completamente. Temos desde o investidor buscando retorno na planta, até o consumidor final buscando o lar dos sonhos.”

Márcia Fett complementou: “Hoje o cliente de Vacaria tem acesso às mesmas informações que o cliente de Porto Alegre, por exemplo. Mas seu comportamento de compra ainda é influenciado por características locais, como o vínculo com o agro, a familiaridade com espaços amplos e o desejo por lareira e churrasqueira.”

Custo de construção: realidade ou mito local?

Um ponto importante discutido no episódio foi a percepção equivocada de que construir em Vacaria é mais caro do que em outras cidades.

Para Susin, esse é um mito que precisa ser combatido com informação. “O custo da construção civil é padronizado em muitos aspectos. O que muda é o valor do terreno. A localização impacta mais no preço do imóvel final do que o custo da obra em si.”

Maurício Boeno reforçou essa ideia ao dizer que “o custo da obra em si é similar em qualquer lugar do estado. O que altera é o valor agregado ao terreno e a margem de investimento que o empreendedor consegue ter”.

Falta de mão de obra: um gargalo que preocupa

Uma das preocupações mais contundentes do episódio foi a escassez de mão de obra qualificada. “Hoje está cada vez mais difícil encontrar pedreiros, carpinteiros, serventes e profissionais de acabamento”, relatou Alex Susin.

“A renovação da mão de obra não está acontecendo. O ofício, que antes era passado de pai para filho, está se perdendo.”

Maurício Boeno concordou: “A gente precisa qualificar mais. Talvez seja a hora de criar um centro de capacitação aqui, como foi feito para motoristas no passado. A construção civil precisa formar seus próprios profissionais.”

Márcia destacou ainda que a legislação atual impede o aprendizado prático nas obras da forma como era antigamente. “O jovem não tem mais essa vivência com o pai no canteiro. Isso afastou uma geração inteira da profissão.”

Investir em imóveis: ainda é uma boa ideia?

O debate também abordou o perfil do investidor local e a viabilidade de investir em imóveis. Márcia lembrou que, após a pandemia, muitas pessoas passaram a valorizar mais a moradia do que bens de consumo como carros. “As pessoas perceberam que morar bem tem um impacto direto na qualidade de vida.”

Maurício Boeno destacou que o imóvel ainda é uma forma segura de aplicar recursos: “Mesmo que o retorno de aluguel não chegue a 1% ao mês, como muitos esperam, o imóvel valoriza acima da inflação. Então, além da renda, há a valorização do patrimônio.”

Alex Susin foi enfático: “O imóvel nunca desvaloriza. Quem compra bem localizado, seja terreno ou apartamento, vai ter retorno garantido. Principalmente aqui em Vacaria, onde a demanda está crescendo.”

A explosão do aluguel e a carência habitacional temporária

O podcast também abordou um fenômeno recente no município: a escassez de imóveis para locação. “Passei em cinco imobiliárias. Todas têm poucas opções de apartamentos para alugar, enquanto há uma oferta enorme de salas comerciais”, relatou Lucas.

Segundo os engenheiros, isso se deve à chegada de profissionais de fora, especialmente do setor agroindustrial, que preferem alugar a comprar imóveis. “Esses profissionais ficam na cidade por períodos incertos. Então optam por locação. E isso pressiona o mercado”, explicou Susin.

Lucas acredita que o mercado local ainda vai reagir a essa demanda. “Já tem gente adaptando imóveis comerciais para moradia. O mercado vai ajustar. O investidor que estiver atento vai se dar bem.”

Vacaria como ponto estratégico: BRs, ferrovias e crescimento urbano

Um ponto alto da conversa foi a reflexão sobre a posição estratégica de Vacaria. Com a movimentação nas BRs 285 e 116, além da possibilidade futura de reativação da ferrovia, a cidade se projeta como um polo logístico.

“Me disseram que passam 10 mil veículos por dia pela BR-285. Isso é gigante! Onde esse povo para? Onde abastece? Onde dorme? Vacaria vai precisar se adaptar para absorver esse fluxo”, comentou Susin.

A chegada de dois novos viadutos — um já em andamento e outro previsto na Avenida Samuel Guazzelli — reforça esse movimento de adaptação urbana. O grupo foi unânime: Vacaria vai crescer e precisa estar preparada.

3 Percepções de quem acompanha o mercado de Vacaria:

Alex Susin: “Eu acredito muito em Vacaria. A cidade tem um potencial enorme. É bonita, tem natureza, tem localização privilegiada. Falta a gente valorizar mais tudo isso. Turismo, construção, investimento… a cidade tem tudo pra crescer.”

Maurício Boeno: “A cidade está crescendo. Vamos continuar investindo aqui. Não adianta aplicar tudo na praia e esquecer que é aqui que vivemos onze meses por ano. Vacaria é fértil. Vamos mostrar que o centro da cidade também é solo bom pra crescer.”

Márcia Fett: “O maior ensinamento da pandemia foi que morar bem é essencial. Não adianta carrão e casa ruim. Vamos investir na nossa moradia, na nossa cidade e na nossa qualidade de vida. Vacaria tem tudo pra oferecer isso pra nós.”

O 4º episódio do Podcast Diário de Arquitetura e Construção reforça o papel da informação técnica, da valorização profissional e da visão de futuro como caminhos para uma cidade mais bem construída — literal e simbolicamente. Vacaria está se moldando a uma nova era. E agora, mais do que nunca, é hora de prestar atenção nisso.