Diário de Vacaria liga o agro da região a Brasília em entrevista com o senador Luis Carlos Heinze

Em entrevista exclusiva ao Diário de Vacaria, o senador Luís Carlos Heinze abordou com profundidade o cenário dramático vivido pelos agricultores gaúchos nos últimos anos e o esforço conjunto para buscar soluções em Brasília.
A conversa destacou a mobilização realizada na feira Cotrijal, em Não-Me-Toque, onde representantes do agro de todo o Rio Grande do Sul se uniram em uma audiência pública promovida pelo Senado Federal para chamar a atenção do governo federal.
A audiência contou com a participação de cooperativas, serialistas, pequenos, médios e grandes produtores, revendas de insumos, instituições financeiras e entidades de classe. A presença ampla e diversificada demonstrou a gravidade da situação enfrentada pelo setor agropecuário e a necessidade urgente de medidas concretas. O senador Heinze ressaltou que a união dos diversos atores do setor foi essencial para criar força política e institucional em torno da pauta.
Três pilares emergenciais: alívio imediato para o campo
Na audiência, foram definidos três pontos centrais que sintetizam as demandas do agro gaúcho. O primeiro é a extensão do prazo para pagamento das dívidas com juros reduzidos e possibilidade de amortização em até 20 anos.
O segundo trata da inclusão de operações judicializadas nas renegociações.
E o terceiro busca o estabelecimento de uma linha especial de crédito via BNDES para recuperação de solo e incentivo a projetos de irrigação, como forma de enfrentamento das adversidades climáticas.
Esses pontos foram encaminhados ao governo federal e agora estão em processo de negociação, com participação direta do senador Heinze junto aos ministérios da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Fazenda. Ele destacou que o Ministério da Agricultura, sob comando do ministro Carlos Fávaro, e o Ministério do Desenvolvimento Agrário já estão em diálogo com sua equipe para estruturar uma proposta viável.
Audiência com o Ministro da Fazenda: a chave do cofre
A reunião marcada com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na próxima terça-feira, 15, será determinante para o futuro do setor. Segundo Heinze, a prioridade nesse encontro será obter a autorização imediata para prorrogar as dívidas que já estão vencendo em instituições como Sicredi, Banco do Brasil e Banrisul. Essa prorrogação de pelo menos seis meses permitirá tempo suficiente para articular e implementar a reestruturação dos financiamentos de forma planejada.
O senador não esconde a pressão política feita para conseguir essa audiência. Após 20 dias sem resposta, Heinze apresentou um requerimento de convocação na segunda-feira anterior, o que resultou no agendamento da reunião com Haddad. Ele considera essa conquista um passo importante para alcançar as soluções esperadas pelos produtores rurais.
Quatro anos de estiagem, uma tragédia para o RS
Heinze lembra que, nos últimos seis anos, o Rio Grande do Sul enfrentou quatro estiagens severas e uma grande enchente, comprometendo drasticamente a produção agrícola. O impacto econômico é assustador: aproximadamente R$ 150 bilhões deixaram de entrar no bolso do agricultor nesse período. Quando se considera o efeito cascata sobre o comércio, a indústria e os serviços, esse número chega a R$ 450 bilhões, representando quase metade do PIB gaúcho.
O senador também fez um alerta sobre as consequências humanas dessa crise. Ele relatou o caso trágico de um produtor rural de Ipê, sem perspectivas para quitar suas dívidas, acabou tirando a própria vida. Casos assim expõem a urgência de políticas públicas que deem condições mínimas de sustentabilidade e dignidade para quem trabalha no campo.
Judicialização das dívidas: um desafio paralelo
Outro ponto crítico abordado na entrevista é o volume de dívidas judicializadas no setor, sejam com revendas, serialistas ou cooperativas. Para Heinze, é essencial que essas operações também sejam contempladas nas negociações. Ele mencionou um encontro recente com mais de mil produtores em 32 municípios da região do Alto Uruguai, onde a principal angústia relatada foi justamente a falta de soluções para esse tipo de débito.
A securitização das dívidas, ou seja, a conversão dos débitos em títulos de crédito com garantias do governo, é vista como uma alternativa possível. No entanto, segundo o senador, é necessário que o Ministério da Fazenda se envolva diretamente para viabilizar esse modelo, garantindo condições para que os agricultores possam reestruturar suas finanças sem perder o acesso ao crédito e ao mercado.
A importância da pressão política coordenada
Luís Carlos Heinze enfatizou a importância da mobilização conjunta entre parlamentares, prefeitos, vereadores e entidades representativas para pressionar o governo federal. Ele destacou que governos, historicamente, só reagem sob pressão organizada e reiterou o papel dos líderes locais de todos os partidos na construção dessa agenda. O senador defende que, sem pressão, o governo federal tende a não priorizar temas regionais, mesmo quando o impacto é nacional.
Ele conclamou os produtores rurais, especialmente da Serra Gaúcha, a pressionarem seus deputados estaduais, federais e senadores para que o movimento continue ganhando força em Brasília. A mobilização, segundo ele, precisa ser mantida até que o governo apresente uma resposta concreta e estruturada.
Perda econômica e impacto no consumidor
Além dos prejuízos diretos aos agricultores, Heinze alertou para os efeitos que a crise do agro provoca em toda a economia e no bolso do consumidor. A escassez de grãos, por exemplo, impacta diretamente os preços dos alimentos e dos insumos industriais. Assim, segundo o senador, o drama vivido no campo acaba sendo compartilhado por toda a sociedade. Para ele, é fundamental que a população urbana entenda que o sofrimento do produtor afeta também o custo de vida nas cidades.
A entrevista finalizou com um tom de esperança e de compromisso com o futuro do agro gaúcho. Heinze reafirmou sua dedicação à causa e agradeceu o apoio recebido dos produtores e da imprensa regional. Ele destacou a importância da imprensa local como elo entre Brasília e os campos do Rio Grande do Sul, e reafirmou que sua luta é por soluções reais, sustentáveis e que respeitem o esforço do homem do campo.