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Depois do susto com o ônibus dos estudantes, é hora de enxergar o valor dos Bombeiros Mirins

Nos estúdios do Diário de Vacaria, Lucas Barp recebeu o Sargento Maier, o Soldado Teles e a Soldado Tainara do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul para um bate-papo sobre o Projeto Bombeiro Mirim, iniciativa que cresceu em Vacaria e se tornou referência estadual.

Depois do susto com o #ônibus dos #estudantes, é hora de enxergar o valor dos #Bombeiros Mirins

Em 2016 quando o sargento Maier chegou a Vacaria para assumir o comando do Pelotão do Corpo de Bombeiros, ele não imaginava que a iniciativa, se transformaria em um dos projetos mais respeitados do município. Em pouco tempo, o Bombeiro Mirim se consolidou como um projeto que forma mais do que aprendizes de primeiros socorros: forma verdadeiros cidadãos.

A proposta, nascida de maneira quase experimental e com recursos limitados, hoje colhe os frutos de um trabalho incansável e movido por propósito. Segundo Maier, tudo começou quando soldados trouxeram a ideia ao comando. Foi o primeiro passo para o início de uma jornada que mudaria a vida de centenas de jovens vacarienses.

Formar para além da teoria: o que o projeto ensina e transforma

O projeto Bombeiro Mirim é destinado a crianças de 10 a 12 anos e vai muito além do aprendizado técnico. As aulas abrangem noções de primeiros socorros, disciplina, hierarquia, trabalho em equipe, educação emocional, educação financeira, prevenção ao bullying e até Libras (língua brasileira de sinais).

As atividades ocorrem aos sábados e, em algumas semanas, também às quartas-feiras à noite, garantindo que não interfiram no período escolar. A Soldado Tainara, uma das responsáveis pelo projeto, explica que os efeitos ultrapassam os muros do quartel: “Eles mudam em casa. Passam a ter horário para estudar, arrumam o quarto, ajudam mais os pais e até iniciam alguma atividade física”, relata.

O aprendizado em ação: o acidente com o ônibus em Porto Alegre

Um dos episódios que projetou o Bombeiro Mirim nacionalmente foi o recente acidente que se tornou um grande incêndio em um ônibus na cidade de Porto Alegre. O veículo, com dezenas de jovens a bordo, pegou fogo após colidir em 9 carros e uma moto. O que poderia ter sido uma tragédia acabou se transformando em um exemplo de coragem e preparo.

Quatro ex-alunos do projeto estavam entre os passageiros e, diante do caos, colocaram em prática tudo o que aprenderam anos antes. Eles ajudaram a organizar a evacuação, mantiveram a calma dos colegas e orientaram a saída de todos. Resultado: nenhuma vida perdida.

Para o Sargento Maier, o sentimento foi de orgulho e emoção. “Era pra ter sido a segunda maior tragédia do estado, depois da Boate Kiss. E não foi, porque essas crianças agiram. Foi a mão de Deus e o reflexo do que o Bombeiro Mirim ensina.”

O orgulho de quem plantou a semente e vê o fruto crescer

O Soldado Teles, outro responsável direto pelo projeto, lembra que a ideia inicial era aproximar os jovens da carreira militar. “Não tínhamos essa cultura em Vacaria. Hoje, temos mais de 10 ex-mirins aprovados no concurso para bombeiros e outros que inclusive seguiram para o colégio militar”, comemora.

Além disso, o quartel mantém uma vaga de estágio destinada exclusivamente a ex-mirins. “A Brizola, por exemplo, foi nossa aluna e hoje está nas fases finais do concurso de bombeiro”, conta Tainara, orgulhosa.

A estrutura que desafia e o futuro que se organiza

Com o sucesso inquestionável e a visibilidade, vieram também novos desafios. O cuidado de proporcionar as melhores condições no dia a dia: alimentação, viagens, instruções… demanda recurso. Da mesma forma, a questão do efetivo, que por vezes acaba que a Tainara e o Teles ficam sobrecarregados.

O projeto atualmente é apoiado principalmente pela Associação Beneficente São João e pelo Banco Sicredi.

Hoje, são apenas 24 vagas por turma, divididas entre concorrência ampla e cadastro único. “O que me deixa meio abalado é não poder fornecer mais vagas para atender um maior número de crianças e, por consequência, uma maior… mais famílias, né?”, afirma Maier.

Há, porém, boas notícias. O Estado do Rio Grande do Sul deve fornecer novos materiais a partir do próximo ano. Além disso, a chegada de novos bombeiros temporários deve somar ao efetivo local, abrindo espaço para expandir o projeto.

A força feminina que inspira novas gerações

A presença feminina é um marco importante dentro do Bombeiro Mirim. A soldado Tainara, uma das poucas mulheres no efetivo de Vacaria, uma verdadeira inspiração direta para as meninas, fala sobre as mirins que participam do projeto: “As gurias se destacam, puxam mais, se dedicam muito. É lindo de ver”, afirma.

Ela conta que constantemente recebe mensagens de meninas dizendo querer seguir o mesmo caminho. “Isso paga todo o esforço. Ser espelho para alguém é uma honra imensa”, destaca Tainara.

Família e escola como pilares de apoio

O sucesso do projeto também se deve ao envolvimento familiar e escolar. Desde o início, os pais são convidados a acompanhar a rotina dos filhos e a participar de algumas atividades. Além disso, há uma cobrança saudável pelo desempenho acadêmico. “Eu peço os boletins, estipulo metas e acompanho. Isso ajuda a criar responsabilidade”, explica Tainara.

O projeto ainda conta com apoio da Professora Marialva e da psicóloga Rejane Adames, que ajudam a lidar com questões emocionais e sociais. “Já detectamos situações graves e acionamos os órgãos competentes. Cuidar também é parte da nossa missão”, completa Maier.

O auge do projeto: o campo e a formatura militar

O momento mais aguardado do ano é o campo e a formatura. O evento acontece em novembro e segue o padrão de uma cerimônia militar. Os alunos passam três dias em regime de treinamento, dormem fora de casa e aplicam na prática tudo o que aprenderam durante o curso.

“Tem mirim que nunca dormiu fora de casa ou ficou sem o celular. É um aprendizado de superação”, relata Teles. No sábado, às 10h da manhã, os pais aguardam os filhos marchando, cantando e emocionados. “Eles chegam sujos, cansados, mas vitoriosos. E não há um pai que não chore de orgulho.”

O olhar do comando e a força da comunidade

Para o Sargento Maier, o projeto está consolidado e já é parte da identidade de Vacaria. “Não tem mais espaço para ele acabar. É do município, é da comunidade”, garante. Ele ressalta que o envolvimento popular é impressionante.

“Após o incêndio, meu telefone não parava de tocar. As pessoas agradecendo, oferecendo ajuda, querendo contribuir. Isso mostra o quanto confiam no Corpo de Bombeiros.”

Maier também enfatiza o papel social do Bombeiro Mirim:

“Durante as atividades, detectamos situações de vulnerabilidade social, e tomamos providências. Quando as crianças estão conosco, são nossa responsabilidade completa.”

Reconhecimento e confiança que fortalecem o propósito

O Corpo de Bombeiros de Vacaria é reconhecido não apenas pela sua atuação técnica, mas também pela postura humana. E o projeto Bombeiro Mirim reforça essa imagem. “Nós trabalhamos 365 dias por ano, 24 horas por dia. Esperamos que ninguém precise, mas, se precisar, somos os amigos certos nas horas incertas”, resume o Sargento Maier.

De pequenos gestos, grandes transformações

Com quase uma década de existência, o Bombeiro Mirim já formou mais de 300 crianças e adolescentes. A cada ano, novas turmas se formam e novos sonhos nascem. O ciclo se renova, mas o propósito permanece: formar cidadãos conscientes, responsáveis e prontos para agir.

Os resultados são visíveis. Jovens que, antes, talvez não tivessem perspectiva, hoje seguem carreiras sólidas e carregam consigo o orgulho de terem vestido a farda pela primeira vez. O projeto que nasceu de um ideal, hoje é uma realidade que transforma.

“O Bombeiro Mirim é uma semente que germina em cada jovem que passa por aqui. E enquanto houver paixão pelo que fazemos, essa é a chama nunca vai se apagar.”, reforça Maier.

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