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Carlos Simm e Luis Henrique Della Giustina falam sobre pecuária, genética, maciez e marmoreio

No mais recente episódio do podcast do Diário de Vacaria, que valoriza cada vez a pecuária da região, a conversa girou em torno da pecuária moderna e dos desafios enfrentados por produtores rurais nos Campos de Cima da Serra.

Carlos Simm e Luis Henrique Della Giustina falam sobre pecuária, genética, maciez e marmoreio

Carlos Simm, administrador da Fazenda Clarice e presidente da Aproccima, e Luis Henrique Della Giustina, presidente do Núcleo Serrano de Hereford e Braford e produtor, foram os convidados especiais e trouxeram uma verdadeira aula sobre gestão, inovação e integração de cadeias produtivas.

Carlos destacou a trajetória da Aproccima, fundada em 2006 como uma resposta à necessidade de conexão entre os elos da cadeia da carne – produção, industrialização e comercialização. A associação surgiu como a primeira rede de cooperação de produtores físicos no Rio Grande do Sul, inspirada em programas estaduais voltados a pequenas empresas.

Sair da porteira: o desafio de produzir para o mercado

Durante a conversa, Carlos ressaltou que os produtores precisam “sair da porteira” e observar as demandas do mercado. “Não é só produzir o que se quer, é produzir o que o mercado quer comprar”, frisou. Ele contou como a Fazenda Clarice, que completa 90 anos, evoluiu junto com o setor, adaptando-se às exigências de qualidade e consumo.

A Aproccima atua hoje com sete unidades de negócio, indo além da carne bovina: genética, carne ovina, produção de terneiros e cordeiros, florestas e biomassa, agroturismo e mais. Essa diversificação é parte da estratégia de maximizar os recursos das propriedades rurais.

Produtor x produtor: o impacto da desorganização

Um ponto crítico levantado na conversa foi a competição entre os próprios produtores. Carlos alertou sobre as distorções de mercado provocadas pela ausência de padronização e planejamento.

“Tem produtores que fazem contas e outros que não. Uns vendem quando precisam tirar o gado da pastagem, independentemente do preço”, disse. Essa prática prejudica a cadeia como um todo, desvaloriza o produto e enfraquece relações comerciais.

Genética, maciez e marmoreio: o caminho da carne premium

A discussão avançou para um dos temas mais atuais e inovadores do setor: o uso de genoma na produção de carne. Carlos explicou como a análise genética permite identificar animais com características superiores, como maciez e marmoreio, resultando em carnes de qualidade superior e maior valor agregado.

A Aproccima desenvolveu selos específicos, como o Aproccima Gourmet (foco em maciez), Prestígio (marmoreio) e Sabor (intensidade de sabor da carne), voltados para nichos de mercado exigentes. Essas iniciativas mostram como é possível alinhar ciência, mercado e produção para gerar valor.

Associações como fonte de conhecimento e inovação

Luis Henrique destacou o papel das associações como ferramenta de democratização da informação e tecnologia. Ele reforçou que o trabalho coletivo possibilita a troca de experiências, o acesso a novas práticas e o nivelamento da produção.

“A principal vantagem das associações é a troca. Não é sobre ganhar 10 centavos a mais por quilo agora, é construir algo sólido e duradouro”, afirmou.

Verticalização e o consumidor como norte

A Fazenda Clarice tem investido em verticalização da produção. Carlos compartilhou a experiência da loja em Caxias do Sul, abastecida com carne de animais selecionados com base em informações genômicas e produzidos com manejo diferenciado.

A rastreabilidade e a qualidade são garantias para um consumidor que, cada vez mais, valoriza a origem e o sabor do que consome.

“Quem manda é o consumidor”, reforçou Carlos, ao falar da importância de produzir pensando na ponta final da cadeia. Ele relatou experiências de consumidores decepcionados com carnes sem qualidade, como a famosa “costela fina”, que ilustram a urgência de se alinhar produção e mercado.

Desafios culturais e geracionais no campo

O debate também abordou as diferenças culturais entre produtores, citando exemplos das origens alemã e italiana. Para Carlos, a cultura influencia no comportamento frente ao associativismo, planejamento e inovação. Ele ainda apontou a necessidade de atrair as novas gerações para o campo, ressaltando que muitas vezes os filhos seguem outras carreiras, deixando a continuidade da produção em risco.

Apoio institucional ainda é limitado

Por fim, Carlos falou sobre a distância do Estado em relação a essas iniciativas de inovação na pecuária. Ele citou o programa Agregar Carnes, do Rio Grande do Sul, como exemplo de um projeto que ainda não atinge todo seu potencial. Em contrapartida, exaltou o modelo de Mato Grosso do Sul, onde o incentivo fiscal chega diretamente ao produtor, gerando ganhos de até R$ 140 por cabeça.

O episódio foi uma verdadeira aula sobre como a pecuária pode evoluir com base em ciência, cooperação e foco no consumidor. Carlos e Luis mostraram que a inovação no campo já é realidade, e que, com organização, conhecimento e visão de longo prazo, o produtor rural pode liderar uma transformação positiva em toda a cadeia.

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