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A história da Fazenda Clarice e da Evolução da Pecuária nos Campos de Cima da Serra

O Diário de Vacaria recebeu em seu podcast o pecuarista Carlos Simm para uma entrevista exclusiva sobre a trajetória da Fazenda Clarice, uma referência na pecuária dos Campos de Cima da Serra.

Com 90 anos de história, a propriedade acompanhou a evolução do setor, desde as antigas tropeadas até a modernização do confinamento e a adoção de práticas sustentáveis. Durante a conversa, o gestor da propriedade, Carlos Simm destacou os desafios, inovações e o compromisso da fazenda com a qualidade da carne, rastreabilidade e redução da emissão de carbono, consolidando-se como um modelo para a pecuária nacional.

Carlos Simm da Fazenda Clarice – Destaque na Pecuária Nacional – Diário de Vacaria

1935 – O Início de uma História

A Fazenda Clarice, localizada nos Campos de Cima da Serra, teve sua primeira matrícula registrada em 1935. Com uma trajetória de 90 anos, a propriedade atravessou gerações, consolidando-se como um símbolo da pecuária na região. Atualmente, está sob a administração da quarta geração da família, garantindo uma sucessão estruturada para manter sua continuidade no futuro.

Década de 1930 – Os Desafios Iniciais

Na década de 1930, a pecuária era marcada pela precariedade nas comunicações e dificuldades logísticas. As transações comerciais eram feitas em dinheiro, transportado de maneira rudimentar. A Fazenda Clarice, situada próxima à antiga Estrada Júlio de Castilhos, testemunhou as tropeadas que levavam mulas para São Paulo, essenciais para o transporte de riquezas naquela época. Além disso, a fazenda possuía locais históricos, como taperas de antigos moradores e até salões de baile, onde os trabalhadores se reuniam.

Década de 1960 – Inovação na Engorda de Gado

Até os anos 1960, a engorda de bovinos era feita exclusivamente em campo nativo, tornando o ciclo de produção lento, podendo levar até oito anos para que um animal atingisse o peso ideal. Durante o inverno, quando não havia oferta de pasto, o governo regulava estoques de carne congelada para garantir o abastecimento. Foi nessa época que a fazenda iniciou a implantação de pastagens cultivadas de inverno, permitindo a engorda contínua do gado e marcando o início do confinamento na propriedade.

Década de 1970 – A Revolução da Agricultura e da Pecuária

Nos anos 1970, a região era predominantemente pecuária, sem uma forte presença da agricultura. Com a introdução da cultura da soja e a criação da Embrapa, o agronegócio começou a se desenvolver significativamente. A Fazenda Clarice acompanhou essa transformação e passou a investir em melhorias tecnológicas, como o confinamento de gado e a produção de volumosos para alimentação animal. Além disso, a década marcou o início da mecanização agrícola na região, possibilitando o aumento da produtividade.

Década de 1980 – Diversificação da Produção

Na década de 1980, a diversificação tornou-se uma estratégia essencial para a sustentabilidade econômica da fazenda. A propriedade expandiu suas atividades, incluindo avicultura e suinocultura. Embora essas atividades tenham sido posteriormente descontinuadas, a estrutura deixada serviu para aprimorar o confinamento de bovinos, consolidando a produção pecuária na fazenda.

1990 – Implantação do Plantio Direto e Modernização da Pecuária

A adoção do sistema de plantio direto nos anos 1990 foi um marco na agricultura local, reduzindo a erosão e aumentando a produtividade. Paralelamente, houve uma modernização do confinamento de gado, passando de um sistema rudimentar para uma alimentação mais equilibrada e eficiente. O mapeamento da fertilidade do solo teve início em 1995, garantindo maior precisão no manejo agrícola.

1997 – Criação do CITE 120 e Conexão com o Mercado

O CITE 120 foi criado em 1997 com o objetivo de conectar os produtores rurais ao mercado e promover a troca de experiências. A iniciativa permitiu que a Fazenda Clarice e outras propriedades da região aprimorassem suas práticas e adotassem novas tecnologias. O grupo se reune mensalmente, proporcionando um espaço para discussões técnicas e inovação.

2015 – Caracterização da Carne e Rastreabilidade

A Embrapa, em parceria com a UFRGS, conduziu um estudo em 2015 para caracterizar a carne conforme diferentes tipos de engorda. A Fazenda Clarice teve um papel central nesse estudo, tornando-se a primeira propriedade do Rio Grande do Sul a ter um animal oficialmente rastreado dentro do programa de rastreabilidade da pecuária estadual.

2018 – Inauguração da Loja Própria

Para garantir a comercialização direta ao consumidor, a Fazenda Clarice inaugurou sua loja própria de carnes em 2018. A loja incorporou conceitos inovadores, como a venda de carne certificada com boas práticas agropecuárias. Em 2022, a loja foi a primeira do Rio Grande do Sul a receber o selo Carne Premium Gaúcha, certificação concedida pelo governo estadual.

2021 – Avanços Genéticos e Análise de Genoma

A partir de 2021, a fazenda adotou a análise de genoma para seleção de bovinos com características superiores de carne. Esse avanço permitiu a identificação de animais com maior maciez e marmoreio, garantindo um padrão de qualidade elevado. A tecnologia tem sido essencial para a melhoria contínua da produção.

2023 – Sustentabilidade e Carbono Negativo

Em 2023, a Fazenda Clarice realizou a medição de sua pegada de carbono e constatou um saldo negativo, ou seja, sequestra mais carbono do que emite. Essa conquista foi possível devido à adoção de práticas sustentáveis, como o aproveitamento de resíduos agrícolas na alimentação animal e a gestão eficiente dos dejetos do confinamento.

O Futuro da Fazenda Clarice e seu Legado

Carlos, administrador da Fazenda Clarice, destaca a importância de documentar essa trajetória e disseminar o conhecimento sobre pecuária e agricultura sustentável. Como parte desse compromisso, a fazenda pretende abrir suas portas para estudantes, proporcionando visitas técnicas e compartilhando sua experiência com as novas gerações.

A história da Fazenda Clarice não representa apenas a evolução de uma propriedade rural, mas reflete o desenvolvimento da pecuária e da agricultura nos Campos de Cima da Serra. Seu legado serve de referência para produtores, pesquisadores e todos aqueles que valorizam a tradição e a inovação no agronegócio.

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