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Vacaria em luto se pergunta: até onde o sistema de saúde pode falhar?

Vacaria está de luto ou pelo menos, a parte dela que sofreu a perda de alguém que tanto ama.

O silêncio tomou conta das ruas principalmente desde o dia 16 de setembro, quando um bebê de apenas dez meses morreu no Hospital Nossa Senhora da Oliveira. A notícia se espalhou rápido e trouxe um peso que atravessou famílias inteiras.

O sentimento de dor logo se misturou à indignação. No mesmo dia, a Câmara de Vereadores interrompeu sua sessão ordinária, incapaz de seguir diante da tragédia.

Pouco depois, a Prefeitura emitiu nota dura, cobrando responsabilidades do hospital. A instituição de saúde também se manifestou, expressando pesar e anunciando sindicância interna.

Neste sábado, 20 de setembro, quando os gaúchos costumam celebrar sua tradição, a comunidade de Vacaria se organizou para ir às ruas em uma manifestação triste, formada por dor e muitas lágrimas.

A pauta não foi política, mas de vida. O povo quer respostas, mas também pede mudanças.

Uma sessão interrompida pelo luto

Na noite do dia 16, enquanto a Câmara de Vereadores realizava seus trabalhos, a vereadora Deise Montanari pediu ao presidente, Edimar Biazzi, a suspensão da sessão. A questão foi levada aos líderes de bancada, que decidiram pelo cancelamento.

A decisão foi simples, mas cheia de significado. O gesto mostrou que não se tratava apenas de uma perda familiar, mas de um luto coletivo.

Acompanhe o registro realizado pelo Diário de Vacaria da fala da Vereadora Deise

Foi a forma simbólica do Legislativo dizer que a vida vem antes de qualquer pauta política e a fala da vereadora foi além do cargo que ela ocupa: foi um sentimento de mãe, uma mãe que tem 3 filhos. Algo de mãe para mãe. E quem questiona amor de mãe?

A voz firme da Prefeitura

No dia 19, a Prefeitura de Vacaria se pronunciou de forma dura. O Executivo classificou o caso como “violação grotesca” e exigiu respostas imediatas do hospital.

Acompanhe o vídeo realizado pela Prefeitura Municipal de Vacaria com o Prefeito André Rokoski

NOTA OFICIAL – 19/09/2025

O Poder Executivo do Município de Vacaria acompanha com profunda indignação e gravidade o óbito intolerável de uma criança de dez meses no Hospital Nossa Senhora da Oliveira. *O ocorrido é uma violação grotesca dos princípios mais elementares da administração pública e da confiança depositada pela população.*

Como contratante dos serviços do HNSO, o Município exige, com máxima urgência, respostas claras e eventual responsabilização. *A qualidade no atendimento não é uma mera expectativa; é uma obrigação contratual e um dever ético inegociável.*

Diante da gravidade dos fatos, o Executivo determinou as seguintes medidas imediatas:

  • 1. Foi formalmente notificado o Hospital Nossa Senhora da Oliveira para o afastamento imediato do profissional responsável pelo atendimento, até a conclusão do inquérito policial em andamento.
  • 2. A Secretaria Municipal da Saúde irá conduzir uma apuração técnica rigorosa por meio de sua Comissão de Óbitos.
  • 3. Foi determinado pelo Prefeito Municipal a abertura de um Processo Administrativo Especial para apurar responsabilidades e aplicar as sanções contratuais e legais cabíveis ao hospital.
    *A Administração deixa claro: O Hospital é um prestador de serviço como qualquer outro e assim será tratado, com respeito, mas sem distinção.*

O Município coloca-se ao lado da família enlutada, prestando todo o suporte necessário, e não medirá esforços para exigir a máxima transparência do HNSO. A população de Vacaria merece respostas, e a Administração Pública não se furtará à sua obrigação de garantir que tragédias como esta não se repitam.

A resposta do Hospital

Dois dias após a tragédia, o Hospital Nossa Senhora da Oliveira se manifestou. Em sua nota, transmitiu pesar e informou a abertura de sindicância.

NOTA OFICIAL – 19/09/2025

“O Hospital Nossa Senhora da Oliveira manifesta sua profunda solidariedade e sensibilização aos familiares, diante do momento de dor vivido. Expressamos nosso mais sincero pesar e nos colocamos próximos às pessoas diretamente afetadas.

Ao mesmo tempo, informamos que foi instaurada uma sindicância interna com o objetivo de apurar todas as circunstâncias relacionadas ao ocorrido.

Reiteramos que o Hospital Nossa Senhora da Oliveira tem como princípios a ética, a responsabilidade e o cuidado integral à saúde da comunidade.”

A cidade nas ruas

Hoje, 20 de setembro, a dor se transforma em mobilização. Moradores organizaram uma manifestação para pedir mudanças na área da saúde. Não se trata apenas de justiça por uma vida perdida, mas de evitar que outras famílias passem pelo mesmo.

Acompanhe o registro realizado pelo Diário de Vacaria da Manifestação em prol da Saúde em Vacaria

Um caminho que pode mudar os resultados

Quando a dor se repete, a cidade aprende uma lição dura:

“Todo sistema é perfeitamente desenhado para obter os resultados que obtém” uma frase atribuída a Paul Batalden, um renomado membro sênior e presidente fundador do Institute for Healthcare Improvement (IHI)

Se queremos resultados diferentes, não basta trocar nomes ou fazer promessas; é preciso mudar o desenho do cuidado. Esse caminho começa com respeito. Respeito pela pessoa, pela família, pela história e pelo medo de quem procura ajuda.

Respeito é escutar, explicar com clareza e revisar condutas quando algo foge do esperado. Ele continua com verdade e aprendizado.

Quando um evento grave acontece, a primeira atitude é acolher.

A segunda é entender o que falhou, sem caça às bruxas, para que não se repita.

Para funcionar todos os dias, esse caminho precisa de rotas que protegem.

  • Triagem que reconhece gravidade, identificação correta do paciente, checagens de medicação e boa comunicação entre turnos e equipes.
  • Precisa também de voz ativa das famílias.
    Quem vive a dor percebe sinais que o serviço às vezes não vê. Perguntar, anotar, pedir reavaliação e compreender o “próximo passo” faz parte da proteção.
  • Nada disso caminha sem responsabilidade com resultados.
    É preciso transformar cada falha em plano de ação com prazos, responsáveis e acompanhamento, dizendo à comunidade o que já mudou.
  • O poder público tem o papel de cobrar e tornar visível.
    Relatórios simples, metas claras e prazos divulgados ajudam a cidade a acompanhar a travessia do luto para a prevenção.
  • E os profissionais precisam se sentir seguros para falar sobre riscos.
    Gente com medo se cala; gente protegida para aprender ajuda a evitar novas perdas.
  • Quando respeito, verdade, rotas de proteção, participação da família, resultados mensuráveis, transparência e coragem para aprender caminham juntos, o desenho muda.
    E, com ele, mudam os resultados.

Esse caminho tem nome. É disso que Vacaria fala quando transforma dor em compromisso: Cultura de Segurança do Paciente.

Um caminho que pode mudar os resultados

O luto não precisa se transformar apenas em lembrança dolorosa. Ele pode ser o início de uma travessia coletiva. É hora de passos simples, mas firmes: escutar, aprender, corrigir e compartilhar.

É preciso criar um ambiente em que os profissionais possam falar sem medo, em que os erros não sejam escondidos, mas compreendidos. É necessário envolver famílias e pacientes nas decisões, abrir espaço para a verdade e transformar relatos em planos de ação. Cada mudança deve ser acompanhada, medida e comunicada, para que todos vejam o resultado.

O desafio que Vacaria enfrenta não será superado com acusações políticas, mas com compromisso coletivo.

Isso significa:

  • tirar o foco da culpa individual, porque falhas raramente acontecem por um único erro;
  • assumir a responsabilidade sistêmica, reconhecendo que os resultados refletem processos mal desenhados;
  • abrir espaço para a comunidade participar, dando voz às famílias que sentem na pele as falhas do cuidado;
  • e manter o debate técnico e humano, e não partidário, para que a saúde não se torne palco de disputas.

Esse é o caminho capaz de transformar dor em mudança, indignação em aprendizado e luto em esperança. Um caminho que já tem nome e precisa ser assumido por todos.

O Diário de Vacaria cumpre sua parte ao registrar cada passo dessa história. Não apenas para lembrar a tragédia, mas para transformar a memória em consciência. Nossa missão é dar voz à dor, à cobrança e também à esperança.

Mas nenhuma transformação se sustenta sem a comunidade. É a participação de cada cidadão, acompanhando, cobrando e colaborando, que pode levar essa mensagem adiante e impedir que novos erros se repitam.

Porque, no fim, é disso que se trata: um pacto coletivo de respeito, dignidade e aprendizado. Um pacto que tem um nome já conhecido em outros lugares e que precisa florescer também aqui.

A cultura de segurança do paciente precisa chegar a todos nós.

saúde, Segurança do Paciente, Vacaria

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