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Da dor à luta, da delegacia à Assembleia: quem é a Delegada Nadine e porque ela é uma inspiração

A entrevista conduzida pelo Diário de Vacaria com a deputada estadual e delegada Nadine Anflor revelou uma história que procuramos todos os dias, aquela que se torna referência, inspiração para muitas pessoas.

Da dor à luta, da delegacia à Assembleia: quem é a Delegada Nadine e porque ela é uma inspiração

Um retrato fiel da transformação pela qual a segurança pública gaúcha passou nos últimos anos, sob liderança feminina, e de como essa experiência tem contribuído diretamente para o debate político atual.

Nadine não apenas marcou a história como a primeira mulher a comandar a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, como também segue ocupando espaços com um olhar humano e técnico sobre temas urgentes da sociedade.

Raízes, vocação e escolha pelo serviço público

Natural de Getúlio Vargas, filha de professores e primogênita de sua geração, Nadine foi moldada desde cedo pela responsabilidade. Ela relembra, com carinho, as orientações firmes do pai, que a incentivaram a buscar independência financeira. Ainda sem imaginar um futuro na polícia, ela deu os primeiros passos em sua trajetória ao ingressar no curso de Direito em Passo Fundo.

A transição da vida acadêmica para o serviço público começou com a aprovação em um concurso para o Ministério Público, onde trabalhou por dois anos. Foi ali, naquela rotina, onde se julgam os crimes
dolosos contra a vida, especificamente os os homicídios que o trabalho da Polícia Civil chamou sua atenção.

A experiência de ver o impacto direto da investigação na condenação ou absolvição de acusados despertou o desejo de ingressar na corporação. Em 2004, foi aprovada como delegada e iniciou sua trajetória em Santo Antônio da Patrulha.

O desafio histórico de liderar a Polícia Civil

Em 2018, o convite do governador Eduardo Leite e do então vice-governador Ranolfo Vieira Júnior para assumir a chefia da Polícia Civil gaúcha representou mais do que uma nomeação: foi um marco. Nadine assumiu a liderança de mais de 5.600 homens e mulheres e enfrentou de imediato o desafio de romper uma longa tradição masculina no comando da instituição.

Longe de tentar imitar modelos anteriores, Nadine fez questão de liderar à sua maneira. Com escuta ativa, sensibilidade e um olhar atento à diversidade de pautas que afetam a sociedade, ela implementou mudanças importantes.

Sua gestão foi marcada pela criação de iniciativas como a Sala das Margaridas, espaço de acolhimento para mulheres vítimas de violência, e a delegacia amiga dos animais, combatendo os maus-tratos de forma inédita.

Mas talvez o maior legado tenha sido abrir portas para que outras mulheres também pudessem assumir cargos de liderança dentro da polícia, em especial em áreas historicamente masculinas, como o Departamento de Homicídios.

A violência contra a mulher como bandeira

Antes de ser chefe da Polícia Civil, Nadine já acumulava anos de experiência atendendo mulheres vítimas de violência, testemunhou a dura realidade de vítimas que, além da violência doméstica, enfrentavam a ausência do Estado.

Casos marcantes, como o de uma mulher espancada que chegou à delegacia com o filho no colo e implorou por ajuda, moldaram sua visão sobre a necessidade de políticas públicas efetivas.

A chegada da Lei Maria da Penha, em 2006, foi outro divisor de águas. Nadine foi uma das primeiras delegadas a aplicar rigorosamente a nova legislação, prendendo em flagrante os agressores e dando efetividade à lei que, até então, muitos duvidavam que “pegaria”.

No entanto, a deputada lembra que a luta contra a violência de gênero não se resolve apenas com repressão.

A dependência emocional e financeira ainda aprisiona muitas mulheres, impedindo-as de romper o ciclo de agressão. Por isso, sua atuação na Assembleia Legislativa também tem como foco promover o empreendedorismo feminino.

Da segurança à política: o novo front de batalha

A decisão de migrar para a política veio da percepção de que muitas das mudanças necessárias na segurança pública esbarravam na ausência de vontade ou articulação política. Apesar de nunca ter sido filiada a partido antes, Nadine entendeu que, para transformar de fato a realidade, era preciso ocupar os espaços legislativos.

Eleita com mais de 40 mil votos, distribuídos em mais de 400 municípios do estado, ela afirma que sua candidatura foi abraçada por quem reconheceu seu trabalho técnico, ético e transformador à frente da Polícia Civil.

Na Assembleia, ao invés de criar uma frente parlamentar tradicional de combate à violência contra a mulher, Nadine optou por lançar uma proposta inovadora: a Frente Parlamentar do Empreendedorismo Feminino. Com o lema “Empreender é Poder”, ela busca oferecer alternativas reais para mulheres conquistarem independência, gerarem renda e se libertarem de relações abusivas.

O novo fenômeno da violência e o papel dos homens

Durante a conversa, Nadine fez uma importante observação sobre o novo perfil dos casos de violência no Rio Grande do Sul. Para além dos feminicídios e agressões, surgem episódios chocantes de homens que envolvem filhos nas tragédias, como forma de atingir suas ex-companheiras.

Casos de suicídio seguido de homicídio infantil demonstram uma escalada de desespero que, segundo a deputada, também precisa ser compreendida com um olhar mais amplo.

Ela defende que a sociedade precisa oferecer apoio também aos homens, criar políticas públicas que abordem a masculinidade, o emocional e o papel do homem na sociedade. A violência, diz ela, é um fenômeno que atinge toda a família e precisa ser enfrentada de forma coletiva.

RS Seguro: um modelo de gestão que deu certo

Nadine foi uma das idealizadoras do programa RS Seguro, que reorganizou a segurança pública a partir da gestão estratégica dos dados. O projeto foca nos municípios mais violentos, estabelece prioridades claras e promove uma integração inédita entre todas as forças de segurança e instituições de justiça.

A proposta deu resultados: os homicídios e latrocínios caíram drasticamente no estado desde 2019. A deputada agora luta para transformar o RS Seguro em uma política de Estado, garantindo sua continuidade independentemente de quem estiver no poder.

Vacaria como referência no combate ao crime e apoio à mulher

A abertura da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) em Vacaria que aconteceu essa semana, simboliza esse novo momento da segurança pública. Mesmo com bons indicadores, a cidade segue recebendo investimentos e atenção.

Nadine destaca o papel ativo da comunidade, especialmente de empresários como João Zanotto, que contribuíram com o programa PISEG, destinando parte do ICMS para viabilizar viaturas e estruturas melhores para a polícia.

O envolvimento da sociedade, afirma Nadine, é essencial para uma segurança pública de qualidade e próxima da população.

O exemplo inspirador da CIC Mulheres de Vacaria

Outro ponto alto da entrevista foi a menção ao trabalho do Núcleo de Mulheres Empreendedoras da CIC Vacaria liderado pela Advogada Alvânia Borges é um exemplo vivo de como redes de apoio e empreendedorismo podem mudar realidades.

Ela incluiu o Núcleo da CIC entre os quatro grandes exemplos do guia “Empreender é Poder”, lançado pela sua frente parlamentar. O material, distribuído pelo estado, orienta mulheres sobre como abrir micro e pequenas empresas, formalizar seus negócios e acessar direitos.

Legado, representatividade e futuro

Ao final da entrevista, Nadine reforçou sua missão: mostrar que é possível, para qualquer menina do interior do estado, chegar onde quiser — inclusive nos espaços mais altos do poder público e da segurança.

Ela acredita que o verdadeiro legado não está apenas nas conquistas pessoais, mas na multiplicação de exemplos. Quer ver outras mulheres liderando delegacias, comandos e gabinetes, e que isso deixe de ser uma exceção.

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