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Podcast Diário na Estrada: Paulo Ossani da Transporte Cavalinho no Dia do Motorista

O motorista como essência do transporte nacional

O quarto episódio do Diário na Estrada, podcast do Diário de Vacaria, chega no Dia do Motorista – Dia 25 de Julho – com uma conversa profunda, técnica e sensível sobre a importância dos motoristas para a economia e a sociedade brasileira.

Podcast Diário na Estrada: Paulo Ossani da Transporte Cavalinho no Dia do Motorista #004

Sob a condução de Lucas Barp, Nicão, da Transmaso e Alemão, da Top da Boreia, o podcast recebeu o empresário Paulo Ossani, da Transporte Cavalinho. A conversa trouxe à tona temas essenciais como escassez de mão de obra, os desafios da profissão, o papel social do empresário e o impacto logístico e econômico de obras como a Serra da Rocinha.

Paulo iniciou destacando que a história da Transporte Cavalinho — hoje um dos maiores nomes do transporte do Brasil — começou pelas mãos de um motorista: seu próprio pai, que nos anos 60 dirigia caminhão para um frigorífico. Nos anos 70, o pai comprou seu próprio veículo e construiu, com muito trabalho, uma empresa que se tornaria símbolo da força da logística nacional.

O motorista: pilar invisível da logística brasileira

Paulo foi direto ao afirmar: “O motorista é a engrenagem principal do transporte rodoviário.” Apesar do avanço em tecnologia, veículos modernos e ferramentas digitais, nada substitui o ser humano que dirige, que enfrenta a estrada, a solidão e os riscos para que os produtos cheguem a seus destinos.

O empresário destacou o grande desafio do setor: a falta de novos motoristas. Com a aposentadoria de profissionais experientes e a baixa adesão dos jovens à profissão, o setor vive uma escassez preocupante. “Há estudos apontando que até 2030 o Brasil perderá 800 mil motoristas.

Os jovens não querem mais essa vida longe da família”, afirmou Paulo. Isso porque, além da distância, há pressões psicológicas, insegurança nas estradas e um isolamento que só quem vive dentro de uma boleia compreende.

O papel social e emocional da profissão

A conversa ganhou profundidade ao abordar não apenas a questão técnica da escassez de profissionais, mas também o aspecto humano do motorista.

Alemão lembrou do contato diário com os caminhoneiros e como muitos chegam emocionalmente fragilizados. “Eles vivem longe da família, enfrentam adversidades, precisam de acompanhamento, de estrutura”, disse.

A menção à psicóloga Naira, que atuou no Centronor, foi importante para mostrar como o cuidado psicológico pode transformar a rotina de um caminhoneiro.

Paulo complementou que não existe curso profissionalizante para formar motorista de caminhão. “Eles aprendem com o tio, o pai, no meio da estrada, com todos os riscos que isso envolve. É uma profissão de vocação, não de escolha casual.”

Responsabilidade além do CNPJ

Paulo fez questão de sublinhar que o empresário no Brasil carrega um peso gigantesco. “Não estamos apenas gerando lucro. Estamos cuidando de famílias inteiras.” Ele destacou que por trás de cada colaborador está uma rede: filhos, pais, esposas, que dependem do salário, do emprego e da dignidade no trabalho.

Segundo ele, empresas não são feitas só de ferro, caminhão e tecnologia, mas de pessoas. “Tomamos decisões pensando no coletivo, porque olhar para o colaborador apenas como alguém que presta serviço por 8 horas não é construir uma sociedade justa.”

Nicão reforçou esse ponto dizendo que é preciso criar ambientes que atraiam novos motoristas.

“Precisamos de centros de formação, treinamentos, e principalmente dar exemplo, mostrar que há futuro nessa profissão.”

Vacaria como polo de logística e futuro promissor

A conversa tomou um novo rumo ao abordar o desenvolvimento de Vacaria, a cidade onde tudo começou para a Transporte Cavalinho. Paulo, que se define como “bairrista”, afirmou com orgulho que mesmo tendo negócios em outros estados, optou por manter a sede da empresa em Vacaria.

“Aqui temos pessoas incríveis. Nosso time é daqui, tem gente há mais de 40 anos conosco. A qualidade do serviço é um diferencial.”

Um dos grandes marcos para a cidade é a conclusão da rodovia da Serra da Rocinha, que vai ligar o interior ao litoral com uma das rotas mais curtas do Mercosul.

Segundo Paulo, essa obra é um divisor de águas. “Vai trazer fluxo de caminhões, turismo, negócios. Os Aparados da Serra, os Caminhos da Neve, tudo isso tem potencial turístico gigante. Precisamos explorar isso com responsabilidade.”

Alemão e Nicão complementaram dizendo que essa transformação vai afetar diretamente o setor logístico. O porto de Imbituba, por exemplo, será uma alternativa viável para exportações e reduzirá significativamente o custo com diesel e tempo de trajeto.

Cenário macroeconômico: combinação perigosa

Ao ser perguntado sobre a situação macroeconômica do Brasil, Paulo não hesitou em alertar para o momento delicado.

“Estamos diante da combinação perfeita para o caos: economia fraca, política instável, insegurança jurídica e problemas internacionais, especialmente com os Estados Unidos.”

Ele se referia diretamente à nova tarifa de 50% imposta sobre produtos brasileiros como o suco de laranja, madeira e móveis.

“Isso não é só uma taxação, é um embargo. Inviabiliza completamente o negócio. O empresário que exporta 80% da produção já está fazendo cortes na folha. Isso vai gerar um efeito cascata que vai chegar no supermercado, na loja, na vida de todo mundo.”

Nicão acrescentou que a polarização política só agrava a crise. “Enquanto discutimos ideologias, a realidade está batendo na porta do empresário. Não é questão de esquerda ou direita, é o Brasil que está em jogo.”

O empresariado como agente de pressão e mudança

Paulo deixou claro que não é papel do empresariado resolver as crises internacionais, mas é inevitável que ele seja o principal agente de pressão sobre o governo.

“É o empresário que está com a carga parada, com o colaborador em risco, com a folha de pagamento apertada. Ele vai pressionar, porque ele depende disso para continuar.”

A fala de Alemão sobre o impacto da crise no comércio local foi contundente. “Já estamos sentindo queda no consumo. O motorista que deixa de fazer frete, deixa de comprar na minha loja. A economia é uma roda, e ela tá travando.”

Reconhecimento ao motorista: muito além do dia 25 de julho

Apesar dos temas complexos, o podcast voltou ao seu propósito original: homenagear o motorista brasileiro. Paulo finalizou com uma mensagem poderosa:

“Esse profissional merece mais do que um parabéns no dia 25. Ele merece reconhecimento todos os dias. Sem ele, não tem escova de dente, não tem supermercado abastecido, não tem hospital funcionando.”

Alemão complementou dizendo que ser motorista é uma vocação. “Vem de pai pra filho, é paixão. Não é pra qualquer um.”

Já Nicão fez um agradecimento pessoal ao seu pai, também caminhoneiro, por ter lhe ensinado a respeitar e entender essa profissão.

O Brasil que não para graças a quem dirige

O encerramento do episódio foi um tributo à força invisível que movimenta o país: o caminhoneiro.

Enquanto a maioria dorme, ele está na estrada, enfrentando a solidão e vencendo a distância, garantindo que o Brasil continue girando.

E para que essa engrenagem não trave, é preciso mais do que políticas públicas e obras de infraestrutura. É preciso valorização real, oportunidades de formação, cuidado psicológico e reconhecimento diário.

O Diário na Estrada cumpre seu papel ao trazer essas histórias, abrir microfones para os protagonistas e fomentar um diálogo franco sobre os desafios do setor. Porque antes de qualquer crise, o Brasil precisa de quem puxe a marcha, engate a primeira e siga adiante — mesmo quando a estrada é difícil.

Cavalinho, Dia do Motorista, Diário na Estrada

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