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Primeiro implante de tronco cerebral é realizado no Hospital Moinhos de Vento

O Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, inovou no cenário da otorrinolaringologia ao realizar com sucesso o primeiro implante auditivo de tronco cerebral no Rio Grande do Sul. A cirurgia, coordenada pelo otorrinolaringologista e cirurgião de base do crânio Dr. Joel Lavinsky, marca um avanço significativo no tratamento de pacientes com surdez profunda bilateral e ausência de nervos auditivos funcionantes — condição que torna inviável o uso de implantes cocleares convencionais.

Um novo caminho para surdez profunda

Em países com tecnologia avançada, esse tipo de implante já é utilizado há alguns anos. Mas, no Rio Grande do Sul, representa uma inovação que exige altíssima precisão cirúrgica e multidisciplinaridade. A técnica consiste em posicionar eletrodos diretamente nos núcleos auditivos localizados no tronco cerebral, promovendo a percepção do som mesmo quando os nervos auditivos estão danificados ou ausentes.

Essa condição pode ocorrer em diferentes situações: distúrbios genéticos, doenças neurodegenerativas ou tumores que comprometem o nervo auditivo. No caso do paciente operado, a causa foi a neurofibromatose tipo 2, que provocou surdez profunda bilateral. Tratamentos convencionais, como o implante coclear, não eram possíveis.

Detalhes da cirurgia e técnica

A intervenção guiada por Dr. Joel Lavinsky, realizada em equipe multidisciplinar, envolveu o neurocirurgião Dr. Gustavo Rassier Isolan e audiologistas coordenados pela Fga. Natalia Fernandez. A USP, por meio dos profissionais Dr. Ricardo Ferreira Bento, Dr. Marcelo Prudente e audiologista Valéria Goffi, participou da supervisão, conferindo ainda mais robustez científica ao procedimento.

Foram quase dez horas de cirurgia, sem intercorrências significativas. Durante o processo, foram realizados testes eletrofisiológicos para localizar os núcleos auditivos com precisão e garantir que a estimulação elétrica produzisse respostas efetivas. Esse mapeamento intraoperatório é essencial para posicionar corretamente os eletrodos e conferir eficácia ao implante.

Resultados que ultrapassam expectativas

Meses após o procedimento, o dispositivo foi ativado. Os testes subsequentes demonstraram respostas auditivas satisfatórias, confirmando a eficácia da técnica. O Dr. Lavinsky ressalta que ouvir novamente “é um milagre da Medicina” para quem viveu décadas em silêncio absoluto, sem estímulos sonoros.

O paciente Flávio Fidelis, 51 anos, que conviveu com surdez progressiva desde os 29 anos, descreveu a experiência de retorno à audição como transformadora. Ele elogia tanto a dedicação da equipe médica quanto a infraestrutura do Hospital Moinhos de Vento, afirmando que o implante representou um objetivo de vida.

A evolução na vida pessoal e profissional tem sido evidente, apesar de estar ainda em fase de ajustes.

A neurofibromatose tipo 2 e seus desafios

A neurofibromatose do tipo 2 é uma doença genética rara e desafiadora, caracterizada pelo desenvolvimento de tumores nos nervos cranianos. Quando atinge o nervo auditivo, pode levar à surdez ao comprometer sua função, tornando inviáveis procedimentos auditivos tradicionais.

A abordagem com implante no tronco cerebral se mostra uma solução viável e eficaz para esses casos graves. Permite a percepção sonora mesmo na ausência de nervos auditivos funcionantes, diferentemente dos implantes cocleares convencionais, que dependem da integridade de tais nervos.

Técnica cirúrgica e riscos

Colocar um eletrodo diretamente no tronco cerebral é um procedimento delicado que exige extrema precisão. Trata-se de uma área de alta complexidade anatômica, onde ferir regiões vizinhas pode acarretar déficits neurológicos graves.

Além disso, há desafios técnicos, como a fixação do eletrodo e sua conexão com o processador de som externo. A cirurgia depende de imagens de ressonância magnética e tomografia para traçar o caminho exato, e dos testes intraoperatórios para confirmar o local ideal. Possíveis riscos incluem infecções, sangramentos e danos às estruturas neurais adjacentes.

Colaboração interdisciplinar

O êxito da cirurgia deve-se também a atuação integrada de especialistas em otorrinolaringologia, neurocirurgia, audiologia, engenharia biomédica e neurofisiologia. A participação da USP somou conhecimento técnico-científico, fortalecendo a segurança e a inovação do procedimento.

Essa colaboração também foi fundamental na fase pós-operatória, na qual os audiologistas calibraram o dispositivo para ajustar os estímulos elétricos conforme a resposta neurológica do paciente, garantindo evolução contínua da audição.

Mais que ouvir, reconectar com o mundo

Para quem convive em silêncio, ouvir novamente significa reencontrar o mundo de maneira plena — sons da natureza, vozes de entes queridos, sinais cotidianos que passaram despercebidos por décadas. É uma reconexão profunda com a própria existência.

No caso de Flávio Fidelis, essa reconexão se reflete em melhorias na comunicação familiar, no mercado de trabalho e em sua autoestima. Ele reconhece a jornada longa e árdua até encontrar a equipe certa — “anos de busca” — e dedica seu agradecimento a todos que tornaram o implante possível.

Implante histórico

O primeiro implante auditivo de tronco cerebral no Rio Grande do Sul representa uma conquista notável da Medicina regional. Vai além de um simples progresso técnico: é um exemplo de esperança para pacientes que pareciam não ter alternativas.

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