Diário de Vacaria traz Dr. Flávio Luiz Nery para falar sobre a UTI e o Hospital HNSO

No podcast do Diário de Vacaria, Dr. Flávio Luiz Nery fala sobre a UTI, sua trajetória e a complexidade do cuidado intensivo nos Campos de Cima da Serra
Em tempos em que a atenção da população se volta para sintomas respiratórios e pronto-atendimentos lotados, especialmente durante os meses de outono-inverno, compreender o funcionamento do sistema de saúde vai muito além da percepção sazonal. O trabalho contínuo e altamente técnico realizado em setores menos visíveis, como a Unidades de Terapia Intensiva (UTI), muitas vezes permanece fora do debate público, mesmo sendo essencial.
Para ampliar essa compreensão, o podcast do Diário de Vacaria trouxe como convidado o médico intensivista Dr. Flávio Nery, responsável técnico pela UTI do Hospital Nossa Senhora de Oliveira (HNSO) e diretor técnico da instituição. O episódio também contou com a presença de Rafael Sant’Anna, gestor da Singular Soluções em Saúde.
A conversa é uma oportunidade rara de entender com profundidade como funciona o atendimento hospitalar de alta complexidade em Vacaria e qual o papel da UTI em uma rede que atende mais de 140 mil pessoas na região dos Campos de Cima da Serra.
Um convite na hora certa
Dr. Flávio Nery é mineiro, natural de São João del Rei, e formou-se em medicina no exterior. Em 2004, revalidou seu diploma pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 2007, foi convidado a conhecer Vacaria por Douglas Firmino Borges, então secretário municipal de saúde, e decidiu fixar residência no município. “Estava em busca de um lugar para construir uma carreira sólida e criar raízes. Vacaria me acolheu, e hoje sou vacariano de fato, com título de cidadão honorário”, relatou.
Logo após sua chegada, começou a atuar na rede de saúde do município e, em 2008, passou a integrar o corpo clínico do Hospital Nossa Senhora de Oliveira, onde rapidamente assumiu responsabilidades dentro da UTI.
O trabalho para uma UTI melhor
Durante o episódio, Dr. Flávio explicou de forma clara e objetiva que a UTI de Vacaria é classificada como Tipo 2. No Brasil, o Ministério da Saúde categoriza UTIs em três tipos:
- UTI Tipo 1: mais básica, geralmente voltada a estabilizações temporárias.
- UTI Tipo 2: equipada com estrutura tecnológica mais avançada e equipe capacitada para atender casos complexos, com exigências técnicas mais altas.
- UTI Tipo 3: especializada (cardiológica, neurológica, neonatal), com serviços de altíssima complexidade e geralmente localizadas em grandes centros.
“Para alcançar o nível tipo 2, foi necessário um grande esforço institucional. Melhoramos a estrutura física, os equipamentos, qualificamos a equipe e estruturamos a retaguarda com exames laboratoriais e de imagem”, explicou Dr. Flávio.
A partir dessa classificação, a UTI de Vacaria passou a ter seus leitos gerenciados pelo Estado e passou a atuar como unidade regional, atendendo pacientes de toda a macrorregião dos Campos de Cima da Serra — e em momentos de crise, até de outros pontos do estado.
A rotina de um intensivista e a engrenagem do cuidado
O trabalho em uma UTI, como definiu Dr. Flávio, é marcado pelo enfrentamento constante com o risco da morte. “Trabalhamos sempre no limite da técnica e da emoção. Lidamos com pacientes em estado crítico, onde cada minuto conta”, destacou.
A equipe da UTI é formada por oito médicos, além de profissionais das áreas de fisioterapia, enfermagem, farmácia, assistência social, nutrição e nefrologia. “Não existe UTI sem equipe. É impossível falar em cuidado intensivo sem uma engrenagem sincronizada. Cada profissional tem um papel técnico que impacta diretamente o desfecho do paciente”, complementou.
Segundo Rafael Santana, “a engrenagem da UTI só funciona com respeito e sinergia. Do profissional da limpeza ao médico, todos fazem parte do processo de salvar uma vida”.
Avanços obtidos durante a pandemia e momentos críticos
Durante a pandemia de COVID-19, o Hospital Nossa Senhora de Oliveira montou uma nova UTI exclusiva para pacientes com o vírus. A iniciativa foi viabilizada com apoio do governo estadual e federal. “Foram meses de adaptação, de aprendizado e de construção de soluções. Participamos de um projeto de telemedicina com o Hospital Albert Einstein que impactou diretamente nossa forma de atuar”, afirmou Dr. Flávio.
Em 2023, a UTI foi novamente acionada em situações de emergência: enchentes em outras regiões do estado impediram o funcionamento de hospitais e bloquearam rodovias. Com apoio da Polícia Rodoviária Federal, Brigada Militar e Bombeiros, diversos pacientes foram transportados por via aérea até Vacaria. “Muitas vezes, esses pacientes não eram vítimas diretas da enchente, mas estavam em locais sem acesso à UTI e precisavam de cuidado intensivo imediato”, relatou.
Doação de Órgãos: empatia e estrutura a serviço da vida
Outro avanço destacado durante o podcast foi a criação do serviço de captação de órgãos e tecidos no hospital. Em parceria com o Hospital Pompeia, Vacaria passou a ser ponto de captação de córneas. “É um trabalho sensível e técnico. Há toda uma abordagem junto à família, respeitando a dor do luto, mas buscando dar um novo sentido àquela perda”, explicou o médico.
Segundo ele, o hospital liderou em número de captações na região no último ano. O trabalho envolve profissionais capacitados, legislação rigorosa e infraestrutura compatível com os requisitos do Ministério da Saúde.
O que esperar do futuro: oncologia e novos serviços chegando
O HNSO está trabalhando na implementação de seu serviço de oncologia, o primeiro da região com esse nível de complexidade. A equipe está sendo contratada. A expectativa é que o serviço inicie as atividades em 2025.
Além disso, estão em andamento outros projetos importantes:
- Oncologia
- Centro de Parto Normal
- Aquisição de equipamentos para o Centro Cirúrgico, Hemodiálise e setores de Internação
- Adequação da Manutenção e Casa de Resíduos
Entenda mais sobre o Hospital Nossa Senhora de Oliveira
Fundado há 90 anos, o Hospital Nossa Senhora de Oliveira é um dos pilares da assistência hospitalar nos Campos de Cima da Serra. A instituição conta com 149 leitos e um corpo clínico com mais de 130 médicos. É um hospital filantrópico que atende tanto pelo SUS quanto por diversos convênios: Cabergs, Cassi, Geap, IPE Saúde, Postal Saúde, Saúde Caixa, Bradesco, Unimed, além de atendimentos particulares.
Além dos projetos estruturais mencionados no podcast, o HNSO participa de programas nacionais de qualidade como o Projeto Saúde em Nossas Mãos (com o Hospital Moinhos de Vento) e mantém ações de voluntariado por meio da Pastoral da Saúde, clubes de serviço como Rotary, Lions, Leonas e a Liga Feminina.
Missas são realizadas semanalmente no hospital às sextas-feiras, às 15h. Em 2025, o HNSO celebrou seus 90 anos com homenagens da Assembleia Legislativa, celebrações religiosas.