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7 segundos e 4 policiais: vídeo revela momento de disparos e reabre investigação em Bom Jesus

Com o criminoso algemado, gravação mostra ações distintas de PMs e levanta dúvidas sobre disparos fatais

Uma gravação de apenas sete segundos, feita durante uma abordagem policial em uma estrada de Bom Jesus, no Rio Grande do Sul, provocou a reabertura de um inquérito policial e deu nova dimensão a um caso que, até então, estava classificado como morte por resistência à prisão.

No vídeo, aparecem quatro policiais militares, cada um desempenhando uma função específica, quando o criminoso Geovane Matias Maciel, de 19 anos, algemado, é atingido por disparos de arma de fogo realizados por um dos agentes.

As imagens, entregues anonimamente ao Ministério Público e agora sob análise da Polícia Civil, colocam em xeque a versão inicial dos fatos, que relatava legítima defesa após agressão com faca.

A nova peça audiovisual não confirma essa versão e abre espaço para que se compreenda com mais precisão o que realmente aconteceu naqueles poucos segundos que resultaram em uma morte.

Cenas mostram funções distintas dos policiais no momento dos disparos

O vídeo, que tem áudio e imagem nítidos, registra instantes seguintes a abordagem a um Corsa Sedan cinza, posicionado entre duas viaturas policiais da Brigada Militar — uma à frente e outra atrás.

Ao redor do carro, quatro policiais militares cumprem funções distintas, como é possível identificar no curto intervalo filmado:

  • Um deles está orientando o trânsito na estrada;
  • Outro algema Geovane, que se movimenta e é surpreendido pelos disparos;
  • Um terceiro mantém posição de segurança em apoio à operação;
  • E o quarto, próximo do suspeito já imobilizado, é quem realiza disparos que atingem Geovane, levando-o à morte imediata.

O conteúdo, por mais breve que seja, questiona a narrativa original e foi considerado suficiente pela Polícia Civil para instaurar um novo inquérito.

O que o vídeo permite compreender — e o que ainda está em aberto

O vídeo não responde a todas as perguntas, mas expande a compreensão pública sobre o que ocorreu. Ele revela que a cena envolvia quatro policiais, mas os disparos partiram de apenas um deles, e que a vítima estava sob contenção, já algemada, no momento em que foi alvejada.

Isso impõe uma nova análise sobre a proporcionalidade da ação do policial que atirou, e sobre as circunstâncias imediatas que levaram à decisão de disparar.

Versão inicial falava em agressão com faca e reação legítima

O caso ocorreu em 4 de março de 2025, na versão inicialmente registrada no inquérito policial, Geovane teria resistido à prisão e agredido um policial com uma faca, provocando a reação a tiros. Essa narrativa foi sustentada nos depoimentos dos quatro PMs presentes e de uma testemunha.

A investigação foi encerrada dentro do prazo legal e encaminhada à Justiça com a classificação de morte decorrente de oposição à intervenção policial.

Com a chegada do vídeo ao Ministério Público no dia 23 de junho, a versão oficial passou a ser questionada. O conteúdo foi considerado suficiente para desencadear nova investigação.

Polícia Civil destaca atribuição para investigar e aguarda laudos técnicos

A nota oficial assinada pelo Delegado Regional Carlos Alberto Defáveri, informa que a Polícia Civil instaurou novo Inquérito Policial, extraordinariamente pela DP Vacaria, sob a presidência do Delegado Anderson Silveira de Lima.

A instituição reforçou sua atribuição legal para investigar crimes dolosos contra a vida cometidos por policiais militares durante o serviço, o que garante a condução independente do novo inquérito, com o devido acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário.

Diversas diligências já foram realizadas na nova Investigação e outras estão em curso. O vídeo crucial para a investigação foi encaminhado ao Departamento de Criminalística para perícia, assim como as armas utilizadas pelos policiais e projéteis extraídos no exame de necropsia.

Histórico criminal da vítima não interfere na legalidade da abordagem

Geovane possuía mandado de prisão preventiva por violência doméstica, e era investigado por incêndio criminoso contra a casa da ex-companheira, furto de motocicleta e invasão de propriedade rural. Quando adolescente, acumulou atos infracionais, incluindo roubo, ameaças e um latrocínio cometido no 2º Distrito de Bom Jesus.

Apesar da ficha criminal extensa, o vídeo reforça o princípio de que a integridade física de um suspeito sob custódia do Estado deve ser preservada. Uma abordagem só pode ser letal se houver ameaça concreta e imediata, algo que o vídeo coloca em dúvida, sem ainda eliminar a necessidade de apuração completa.

Reações institucionais e próximo passo do inquérito

Os quatro policiais, todos lotados na Organização Policial Militar (OPM) de Bom Jesus, foram afastados preventivamente e imediatamente das funções por decisão do Comando Regional. O inquérito deve ser concluído em 30 dias e remetido ao Judiciário, onde o Ministério Público decidirá sobre possível responsabilização penal.

Neste momento, não se trata de antecipar conclusões, mas de reconhecer que as imagens ampliam o entendimento público do que ocorreu. Elas revelam um contexto que não aparecia nos relatos e tornam incontornável a reavaliação dos fatos.

Sete segundos que colocam o caso em novo patamar

A força do vídeo está em sua concisão. Responder por que o policial atirou cabe técnicamente a isso cabe à investigação. Mas compreender que há mais do que se sabia — e que essa compreensão é legítima e necessária — já é um passo que o vídeo permite ao público e às instituições.

Bom Jesus, Brigada Militar

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